segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O TÉDIO


O tédio é sólido.
Espalha-se pela casa,
Bloqueia os caminhos.
Me faz imóvel no calor escaldante.
Aguardo a noite,
Para amainar a quentura deste dia insano.
E aí, somente aí renascerei.
E o dia de hoje será completamente vivido... 
À noite!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

NOSSA NOITE DE NATAL

Este ano foi bom e ano que vem vai ser melhor ainda.
Acredito nisso e entro imediatamente em contradição, pois mantenho a minha posição quanto ao que penso sobre a virada do ano (http://depoiseagora.blogspot.com.br/2014/11/o-final-do-ano.html). 
Ainda acho que é só uma noite onde fazemos festa para dar continuidade à vida que já está rolando a plenos pulmões. E nesse caso a festa poderia inclusive ser feita em qualquer outro dia do ano… mas existe uma tradição e eu respeito isso.


Ontem, véspera de Natal, fui com a minha mãe ao supermercado fazer compras para o jantar. E só para esclarecer, sim nós fazemos um belo jantar na noite de Natal. Com todos os estabelecimentos comerciais da cidade fechados, temos por hábito há muitos anos reunir a família e mandar ver na comida, na bebida e na sobremesa. Desde que me conheço por gente.
Quando eu era pequena me lembro que ao soarem as badaladas do relógio à meia noite ainda estávamos comendo quando a nossa vizinha, a dona Maria Teresa, saia para o seu quintal que era colado ao nosso e gritava "É Natal, é Natal!!” e “Ele nasceu!” "Ele nasceu!" e ainda “É Natal!" de novo.
Eu e minhas irmãs éramos crianças e corríamos para a janela assim que a gritaria começava, mas nunca conseguimos entender direito que porra era aquela que tinha nascido no quintal da Maria Teresa, e que renascia todos os anos sempre no mesmo lugar e na mesma hora. Com todo o respeito.
Passamos anos ouvindo a gritaria histérica na casa do vizinho todo dia de Natal, meia noite em ponto!
Até chegar a moda dos fogos de artifício que acabaram por abafar a histeria no jardim dos nossos vizinhos. E infelizmente não dava mais para ouvir a Maria Teresa. Uma pena... porque o nosso jantar terminava ritualmente com a gente na janela tentando descobrir - inclusive fazendo apostas! - sobre que espécie de alienígena havia invadido o jardim da Maria Teresa que fazia ela gritar daquele jeito. Em casa só se gritava assim quando a barata era voadora. Uma vez até perguntamos para a filha da Maria Teresa se eles tinham medo de baratas e, quando ela me respondeu que não, criou-se imediatamente uma lacuna eterna preenchida por milhares de divagações e pensamentos soltos com possibilidades de invasores recém natos das mais diversas estirpes, que chegavam sempre depois da comida, provavelmente já jantados, na meia noite do dia do Natal. Até aventamos hipóteses para essa coisa de geração espontânea aparecer sempre depois que a comida acabava, o que era difícil de entender porque a Maria Teresa cozinhava super bem. Se fosse eu, ia nascer no início do jantar e não no fim. O fato é que tudo isso sempre acontecia só no jardim da Maria Teresa, nunca no nosso. Nunca realmente conseguimos ver, muito menos fotografar isso que nascia lá...


Mas o que eu queria dizer é que ontem no supermercado, fazendo o estoque para o nosso jantar, tive aquela sensação que me invade nos finais de ano fazendo a minha metade racional parar de funcionar.
Vi aquelas pessoas todas comprando, muitas delas alegres, outras apressadas, criando um clima de expectativas, como se alguma coisa muito grande estivesse para acontecer.
Agora eu sei que não vai acontecer nada, nem ninguém vai nascer no jardim da Maria Teresa, mas a sensação era boa, de renovação, de felicidade, sei lá.
Voltamos para casa, cozinhamos a comida que compramos, nos divertimos em família, ouvimos fogos de artifício à meia noite mas ninguém gritou, o que me fez refletir... por onde cazzo andará a Maria Teresa?

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

FINAL DE EXPEDIENTE

Outro dia desses eu cheguei tarde ao trabalho. Com horários flexíveis, cheguei perto do horário de encerramento das atividades num local público onde realizo uma função administrativa. 
Quase todos já haviam ido embora com exceção de alguns funcionários da limpeza e do atendimento.
Entrei para fazer meu trabalho e deixei a porta aberta para que todos me vissem dentro da minha sala e não trancassem o lugar comigo dentro. 
Era uma sexta-feira meio chuvosa, mas no final do expediente, o clima entre os que ainda estavam por lá era de completa euforia. 
Enquanto eu trabalhava em meus relatórios a gritaria beirava o insuportável. Este ambiente em que trabalho fica lotado e é normal as pessoas falarem um pouco mais alto para serem ouvidas - sabe repartição pública? Mas àquela hora, com tudo vazio, apenas os poucos funcionários se preparando para deixar o trabalho... os caras gritavam para se comunicarem de uma forma romanesca. Sabe mulher quando quer dar? Ou aquele bando de galinha assustada que tenta sair tudo junto de uma só vez pela portinhola aberta do galinheiro? Era mais ou menos por aí.
E eram risadas altas, firulas sobre namorados ou  conversas sobre o ônibus que já ia chegar e a feijoada com pagode programada para o sábado com a criançada na casa da sogra. 
Cara, e eu tentando me concentrar nos relatórios.
Pior é que não podia nem fechar a porta porque perigava ser esquecida lá dentro e ter de passar meu fim de semana presa na repartição.
De repente, se inicia uma cantoria. 
Chegou um cara no pedaço e começou junto com uma das faxineiras a cantar umas músicas falando do cotidiano das favelas, amores não correspondidos e afins, que eu nunca tinha ouvido na minha vida! E eles cantavam em altos berros, estupidamente desafinados, até que o cara puxou uma música H O R R O R O S A que a moça não conseguiu acompanhar alegando que era uma canção muito antiga. Mas pediu para que ele cantasse até o fim por que era liiinnddaaaa e ela adoraaava essa música! E imediatamente engrenaram mais umas 20 músicas do naipe das anteriores, sem dar trégua por um minuto sequer.
Cara, e eu fazendo meus relatórios...
Nisso eu notei que a gritaria das conversações começou a diminuir. E passou de SABE AQUELA VASsoura... para um burburinho em letras minúsculas. Eles continuavam a gritar para se comunicar, mas agora na rua, o que não me incomodava tanto. As pessoas foram saindo e tomando seus rumos com exceção do casal de cantores que ainda tinha muito repertório para gastar antes de pegar o busão.
E eu estava milagrosamente quase terminando meus relatórios quando ouvi um "Ô Maria das Neves! Cê não quer dar uma esticada pro Karanhokê hoje não?".
Cara, eu sei que é um nome relativamente comum, mas por que cazzo alguém aqui no Brasil dá um nome desses para a própria filha? Por que??? A mulher nunca viu um floco de neve, canta pagode e funk tudo desafinado, nem sabe o que diz e é conhecida como a Senhora dos Invernos! A toda poderosa Maria das Neves!
Fiquei tão absorta na divagação do nome de rainha da nossa cantora que o Karanhokê quase me passou despercebido.

UM DIA COM AS CRIANÇAS

Hoje passei o dia com meus sobrinhos.
Vim dormir na casa da minha mãe pois estou de férias assim como eles, que vieram também e pelo mesmo motivo.
Ontem mesmo já fomos dormir tarde. Ficamos assistindo filmes, tanto de adulto como de crianças, rimos, brincamos e finalmente elaboramos uma lista de coisas a serem realizadas - todas elas - hoje.
Conforme combinado ontem a noite, a minha sobrinha de 6 anos, que sempre acorda mais cedo que todos, iria me acordar de manhã bem cedinho para darmos início então aos trabalhos.
E assim, tal qual como o combinado, de manhã bem cedo eu e a Julia minha cachorra, fomos acordadas aos gritos de "Tia Né", que sou eu mesma, "acorda! " "vai ficar tarde e o shopping vai ficar lotado!". A primeira tarefa da nossa lista era ir ao shopping.
Olhei para a Julia, as duas olhamos para a Teté, minha sobrinha e preguiçosamente começamos a nos levantar já imaginando o longo dia que teríamos pela frente.
Abri a janela, puta chuva! Ótimo. Vamos passear em locais fechados e práticos com garagem e estacionamento cobertos. Adoro.
E enquanto eu escovava os dentes minha sobrinha muito solicitamente aproveitou para levar a Julia ao banheiro.
Fui para a cozinha tomar um café...
Sabe aquele cheiro de cachorro molhado? E sabe o que é você entrar na cozinha para tomar o seu café da manhã e suas narinas serem invadidas por cachorro molhado misturado com pão queimado na torradeira?...
Corremos, eu e a Teté, as únicas acordadas,  com uma toalha e após uns minutos de tensão conseguimos agarrar e enxugar a Juju.
Lavamos então as vasilhas dos cachorros, enchemos de comida e água e finalmente consegui me sentar para tomar um gole de café, com cheirinho de cachorro molhado. Uma delícia.
Bom, o café estava na metade e eu já havia checado as listas de tarefas dos meus dois sobrinhos, agora já devidamente acordados e vestidos, prontos para a nossa jornada.
Quase no fim do meu sagrado café... deu pau. Um bateu no outro por não concordar com as tarefas dispostas programadas. Corri para separar e retive as listas. Agora seria do meu jeito.
Consegui restabelecer a paz, me arrumei e saímos. Fomos ao shopping ouvindo Renaissance. Eles adoraram! A fila do estacionamento virava duas esquinas para fora do estabelecimento. Mas tudo bem, estamos todos de férias e afinal de contas no rádio do carro estava tocando Renaissance!
Bom, depois de meia hora na fila, entramos. A cantoria do Renaissance segurando bem a turminha. Estava divertido.
Trocamos alguns presentes, comemos brigadeiros, shopping lotaaado... passeamos até nos cansarmos. Por "nos cansarmos" entenda-se, eu e a minha irmã que também estava participando da empreitada.
Meus sobrinhos andaram, correram, pularam, comeram doces com as mãos e promoveram uma sensacional luta de espadas com garrafas pet numa renomada loja de sapatos.
Fora uma marca - bem pequena! - na testa da vendedora da loja de calçados, deixamos o shopping sem maiores queixas de outros seres humanos.
Sabe como é shopping em véspera de Natal né? Uma loucura mesmo.
Fomos ainda a uma livraria de rua onde eu tinha que trocar um livro que ganhei de presente. Livro trocado, fomos comer. Comida de verdade num restaurante por kilo.
Alguém já teve esta experiência esotérica? Levar duas crianças num restaurante por kilo?
Fizemos nossos pratos, pesamos e comemos! Muito!
Foi nessa hora que aconteceu. Posso afirmar com a mais absoluta propriedade que a partir do almoço no kilo, parei de sentir dor. Nem dor, nem frio, nem calor, nem fome, nada! Fiquei anestesiada, sensação que durou até algumas horas depois do jantar.
Voltamos para casa ainda cantando Renaissance mas agora tremendamente convictas (eu e minha irmã) de que o grupo musical todo havia morrido num acidente aéreo.
Chegamos em casa!
Desistimos do cabeleireiro apesar de minha sobrinha insistir em dizer que precisava muito fazer as mãos e cortar a franja. Afinal estava na lista! Deixamos para amanhã.
Consegui trocar de roupa e mal me encosto no sofá para checar meus emails quando ouço um "tô com fome!". Esbugalhei os olhos, me virei para meu sobrinho mais velho que também estava atônito e apuramos os ouvidos. E ouvimos de novo o "tô com fome" da pequena de 6 anos. 
Carái véi.
Vou te falar só uma coisa: eu não estava sentindo mais nada!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

ESCREVER, COZINHAR E CANTAR

Escrever...
Cada um tem a sua opinião do que realmente vale a pena nesta vida. E assim, para que não se passe da posição de um ser que é faixa preta para um indivíduo que toma tarja preta, fazemos valer de nossas opiniões tentando melhorar sempre.
Comecei escrevendo.
Na verdade sempre escrevi. Limpando minhas gavetas achei crônicas antigas, que escrevi ainda na escola e com vergonha de fazer vir a público engavetei.
O que eu não sabia nesta época é que para se esconder um texto não há nada melhor do que colocá-lo a público... muito difícil que alguém leia e quando isso acontece também é difícil que alguém leia até o fim.
Mesmo assim insisto. Porque escrevo para mim. Porque escrever é gostoso, um desabafo. E porque algumas pessoas se interessam e isso me deixa feliz.
Então me empenho, tento melhorar, e escrever me provoca - eu acho - o mesmo prazer dos palestrantes do Hyde Park. Eles falam para eles. E é o que eu faço porque me dá prazer.


Cozinhar...
Alguns anos depois de inaugurar o meu blog me interessei pela manufatura da comida. Plantas, cheiros, massas, carnes, peixes, grãos e a multiplicidade de suas formas de preparo. Fascinante.
Passei muitos anos da minha vida experimentando e descobrindo sabores e olores, mas há algum tempo comecei a me interessar pela preparação. Pelos temperos e suas combinações com os diversos ingredientes. E a simples idéia de que a sua cozinha é um grande laboratório, igual àqueles que a gente brincava quando criança, misturando líquidos que mudavam de cor, é muito interessante!
Então ir ao supermercado para mim adquiriu um novo significado. Compro coisas que nunca tinha ouvido falar e experimento diversas combinações às vezes com embasamento de uma receita escrita por algum maluco que já fez aquilo, outras vezes à mão livre. Seguindo minhas próprias intuições.
No início da minha saga culinária até criei a receita do 4. Em um grande recipiente eu colocava 4 medidas de tudo o que havia disponível na geladeira. Uma receita dinâmica, nunca tinha o mesmo gosto, era sempre surpreendente. Só parei porque o meu trato gastro-intestinal reclamou muito e pediu de joelhos para não comer mais aquilo…
Apesar dos contratempos, é surpreendente o número de vezes em que crio gostos perfeitamente comestíveis e por que não admitir, muito bons.
Cozinho também para mim, mas ao contrário de escrever, percebo que a receptividade a esta atividade de forno e fogão é muito maior. As pessoas gostam de ter experiências gastronômicas e eu adoro cozinhar para os meus amigos porque isso me traz um enfoque muito mais social, fazendo com que eu tenha uma sensação completamente diferente da que tenho quando escrevo. E é igualmente bom!
Aparelhar o meu laboratório gastronômico então virou um pequeno hobby. Minha cozinha é pequena e o meu maior desafio é torná-la funcional. Fico planejando por dias antes de adquirir um novo aparato e geralmente uso muito tudo o que compro. É demais esse lance de planejar e usar e ver como todo o seu pequeno investimento é tão funcional.
Todo mundo devia experimentar fazer isso um dia.


Por fim cantar...
Sempre cantei. Mas assim como fazia quando escrevia, me escondia. Tinha vergonha da minha voz pequena, rouca, grave. Cantava para dentro de mim ou para quem quisesse ouvir quando estava no banho.
Um dia perdi a vergonha. Descobri que a minha voz é bonita. Que canto bem e que tem gente que gosta de me ouvir.
É um misto das sensações que tenho ao escrever (para mim) e cozinhar (para os outros). Considero um arremate.
Então eu canto, canto sempre, canto sem medo... tá, às vezes ainda dá medo.
Mas isso me deixa feliz!

domingo, 30 de novembro de 2014

O QUE DÁ PRAZER

Nas últimas duas semanas alguns amigos andaram me perguntando o por quê de eu estar demorando tanto para escrever novos textos... a verdade é que não estou demorando. Eu escrevi dois textos neste meio tempo, mas minha família simplesmente vetou a publicação. E eu, na minha inocência, achando que não há mais censura.
O primeiro texto que escrevi, modéstia a parte, ficou sensacional. Chama-se MEL. Mostrado apenas para pessoas da família e poucos amigos próximos, fez um sucesso estrondoso. Muitos pediram que eu publicasse, mas minha irmã que é advogada me aconselhou firmemente a manter a história descrita em sigilo com medo de eu tomar um processo. Então o texto está aqui, mas vetado. 
Bom, como eu sou vaidosa, se alguém tiver interesse, por favor mensagens inbox!

O outro texto que escrevi foi sobre amizade. Também vetado. Carái véi! Porque eu não posso simplesmente falar o que eu penso. Não estou mandando recados. Estou só constatando fatos. Este ainda vou publicar, deixa só a poeira baixar... Me aguardem.

Mas estava pensando em um outro tema que me acompanha incansavelmente nos últimos meses: como as pessoas adoram ser reconhecidas. É natural. É adrenérgico. O reconhecimento é uma das melhores fontes de energia para a continuidade da pessoa como indivíduo neste mundo. Mesmo que a pessoa não queira, o fato dela ser reconhecida traz uma alegria incontestável que a faz seguir em frente. Um pequeno gesto de agrado, incentivo, mostra o quanto nós não evoluimos. Porque é institivo isso. A minha cachorra também se sente incentivada a progredir quando recebe agrados. Um dia, quando era mais nova, ela foi levada a uma aula de Agility. Aquela atividade na qual o cachorro pula obstáculos e entra em túneis, tudo correndo muito para numa competição ver quem termina em menos tempo. Dizem que o cão se diverte. Mas o que ocorre realmente é que eles adoram os carinhos, os agradinhos, que recebem quando fazem tudo certo.
Pois é, minha cachorra teve um desempenho espetacular no Agility. Na primeira aula já conseguiu um nível de energia bem superior aos seus coleguinhas de turma, o que a fez pensar que era certo subir na pia da cozinha sempre que pensasse em ficar feliz. E era frequente. Deu trabalho explicar que a cozinha não era um campo de Agility.
Enfim, o reconhecimento é importante. E não me venha falar de vaidade porque isto não tem nada a ver com ser vaidoso ou não. Outro dia por exemplo eu fechei um cruzamento no trânsito e fui super aplaudida pelos carros ao meu redor. Foi legal! Agradeci e tudo. Não conseguia ouvir o que diziam porque as minhas janelas ficam fechadas quando dirijo, mas aplaudiram e gritaram muito, o que me deixou feliz o resto do dia.
E por fim constatei também dirigindo que muitas das coisas mais legais que fazemos são aquelas coisas que conseguimos fazer com as duas mãos. 
No meu caso, além de procedimentos técnicos no trabalho, uma das melhores coisas que faço de maneira ambidestra é comer. Quando eu era pequena e fazia balé, nunca entendia a professora, tia Lenira, dizendo muito brava "iniciem com a perna direita a frente, a perna do lado da mão que vocês comem". Só faltava dizer "do lado que vocês comem porra!". E eu sempre errava. É verdade que tinha 50% de chances de acertar, mas nunca tive sorte em apostas...
Posso comer segurando garfos e facas com uma mão ou com a outra, é uma maravilha. No momento estou treinando segurar mais de um garfo ou diversas facas em cada mão, sendo extremamente bem sucedida até agora. Logo mais vou performar uma refeição com seis talheres simultâneos... vai ser num horário próximo das 17 horas. Se eu não mandar notícias num intervalo de 4 horas a seguir da janta, por favor mandem alguém checar! 
Atenciosamente.

O FINAL DO ANO



Não costumo pensar no final do ano como o fim de um ciclo.

Acho que o final do ano é simplesmente o final de mais um ano. E ponto.

Mas eu gosto deste clima que se forma espiritualmente nas cabeças das pessoas. É uma espécie de euforia coletiva onde são feitos planejamentos, intenções, promessas... Acho bonito isso. Traz um pouco de fantasia para a realidade crua da vida.

Há alguns anos nem mais as férias de fim de ano eu tiro. Para mim o final de um ano é só uma época festiva num calendário excêntrico. Não é um fim e nem um começo. É mais um mês numa vida que continua. Os planos antigos e persistentes são mantidos e as porcarias são jogadas fora como se deve fazer em qualquer mês do ano.

Sinto muito em quebrar esta onda de euforia, e por que não dizer... de histeria coletiva que se dá nestes derradeiros dias. Mas no fundo é isso mesmo. É só mais um feriado. Por que não prometemos emagrecer ou mudar de rumo ou deletar os chatos depois, por exemplo, do Carnaval ou do Dia da Consciência Negra? É a mesmíssima coisa.

A vida não pára. Ela só continua.

domingo, 9 de novembro de 2014

MINHA EXPERIÊNCIA COM A ACADEMIA

Todo mundo me pergunta por que eu não estou indo na academia.
Então vou contar da minha última experiência numa academia.
Liguei, fui lá conhecer. Era uma academia vertical. Tinha uns 6 andares.
A fachada era ótima, colorida, muito convidativa. Fui recebida pelo dono, um personal trainer espetacular. Visualmente falando.
O cara me recebeu cheio de mãos e de sorrisos. Do jeito que me conduziu para dentro da academia eu podia jurar que ele tinha três mãos em cada braço.
Fui então conhecer o piso térreo. Piscina, muita gente de aparência saudável praticando natação, hidro e afins. Me pareceu um ambiente alegre, comecei a gostar.
Aí ele me convidou para o primeiro andar. Pelas escadas. Subi os degraus toda feliz, e ele me mostrou todo orgulhoso um imenso salão com máquinas enormes que mais pareciam aparelhos de tortura da época da inquisição, o que ele me garantiu que não eram e que até faziam bem para a saúde. Fiquei tentada a perguntar para a saúde de quem, mas me segurei.
Visto todo o primeiro andar ele me aponta a escada e vai se dirigindo aos degraus ascendentes para me mostrar o segundo andar. Aí já comecei a desconfiar. Sabe aqueles salões com pés direitos imensos, onde cada andar equivale a três pisos de um prédio comum? E ele já subindo, na maior energia. Bom, o cara era lindo e simpático, fui atrás. O problema é que eu tava completamente fora de forma e cheguei no segundo piso com três metros de língua pra fora, só recuperando minha capacidade de fala uns cinco minutos após adentrar a sala da ginástica localizada.
Mostrada a sala da ginástica eu estava na beira da escada que desce quando ele me falou "vamos?!", apontando para a escada que sobe.
Olhei para cima, depois olhei para ele... pensei rapidamente e perguntei "o que tem lá em cima?". Aí ele me diz que é um centro de treinamento de artes marciais. Nisso eu abro meu melhor sorriso e explico delicadamente que não tenho o mínimo interesse em lutas e por mim a visita estava encerrada, eu muito satisfeita inclusive com tudo que havia visto até agora. Pra mim já tava bom!
Bom, nem preciso dizer que o cara não entendeu né? Ficou insistindo pra que eu subisse as escadas porque eu não tinha visto nem metade da academia. Ainda faltavam pelo menos mais três pisos... e o exame médico era no último andar!
Hoje sei que estou muito melhor nesse sentido de dizer o que eu estou pensando com mais leveza, mas naquele momento perguntei com todas as letras "cadê o elevador?".
Foi nessa hora que senti que a nossa amizade começou a azedar.
Pô! Eu só fiz uma pergunta. Que é que tem demais ir de elevador. Eu tava fora de forma e o cara já tinha me feito subir dois lances monumentais de escada. Eu podia ter infartado!
No que ele me explicou que ali era um centro esportivo e que não tinha elevador, comecei também a perder a paciência.
Sentei no degrau já cheia de dor muscular de tanta escada e falei que não dava mais nenhum passo pra cima se ele não me providenciasse uma porra de um elevador. E que se por um acaso eu subisse a pé que era bom ele ter um baita de um bom cardiologista me esperando lá em cima!
Descemos.
Fui para casa num mal humor desgraçado.
Mas ele foi persistente. Me ligou por semanas seguidas e me convenceu. Fiz um plano de seis meses. E cortei relações com um amigo que me convenceu de que "pagando a gente vai".
VTNC! Foi a academia mais cara que já paguei na minha vida!
Há alguns dias fiquei com vontade de me matricular de novo numa academia... Por isso escrevi! Pra me lembrar!
Como diz o ditado, se Deus quisesse que eu colocasse minhas mãos nos meus pés, Ele teria feito tudo mais perto!
Não é pra ser!

SAUDADES DOS MEUS CACHORROS

Tô cansada, chateada e com saudades dos meus cachorros.
Antes tinha os pombos que vinham me visitar. Um casal muito simpático. Tiveram até um filhotinho que nasceu embaixo da Survivor, a minha planta. Ele voou (ou caiu, não sei precisar!) num bonito dia de Natal.
No ano seguinte o casal voltou ao local da desova, mas resolveram que todos os dias às 5 da manhã iam fazer saliências embaixo da Survivor. ...

Não aguentamos. Um dia bati umas tampas de panela bem na hora da azaração e eles voaram. E nunca mais voltaram. E eu tomei uma multa do condomínio por bater panelas às 5 da manhã.
O fato é que nunca mais voltaram, o que foi comemorado com muita alegria por mim e Survivor, que pela primeira vez floriu. Mas floriu muito! Flores amarelas.
Só que agora a Survivor está de mau humor e recolheu as flores todas. Eu nem tô tentando puxar papo com ela porque ela não está para conversas ultimamente.
Por mim posso dizer que estou cansada, particularmente chateada hoje, sem ninguém pra falar... mas não estou com saudades dos pombos.
Estou com saudades dos meus cachorros!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

MINHA FAMÍLIA E O PALHAÇO BETERRABA

Minha família é e sempre foi muito unida.
Apesar de quebrarmos o pau com frequência porque afinal fazemos todos o estilo bélico, somos extremamente unidos. Ninguém pode falar de um de nós na frente de outras pessoas que viramos bicho. Nos unimos sempre para defender quem precisa ser defendido, não importa contra quem tenhamos de lutar.
Estamos sempre dispostos a uma boa briga para nos mantermos juntos – vide aquele dia na churrascaria. Mas essa é uma outra história que depois contarei. Em tempo, exercemos nossa soberania sim com os espetos do churrasco em questão mas felizmente ninguém se feriu, o que fez com que mesmo após a luta de esgrima que promovemos, continuássemos a frequentar o restaurante em tempos posteriores, sendo tratados sempre com muita dignidade. Foi até lúdico. Minha mãe ficou sem falar com a gente uns 3 meses depois do ocorrido, mas ouvi dizer depois que muitos clientes adoraram o barraco... um dia passei na frente do lugar e tenho certeza de ter visto uma placa de "churrasco com esgrima". Eu prometi à minha mãe que pelo nome da nossa família não ia colocar "mais" a público esta história. Mas véi, sem brincadeira, os caras do lugar nunca se divertiram tanto! Certeza!
O fato é que tentamos por uma ou duas vezes a cada semana, nos encontrar todos. Às vezes também combinamos neste meio tempo de nos vermos, as irmãs, ou os pais com uma filha, os arranjos sendo os mais variados possíveis.
Eu a minha irmã do meio por exemplo sempre damos um jeito de nos encontrar uma vez por semana para almoçar. Por exemplo, semana passada fomos num buffet self service, orgânico, daqueles orgânicos que estão na moda, onde a comida é tão leve que metabolizamos tudo em 40 minutos e depois podemos tranquilamente ir a uma churrascaria comer direito.
Mas nós adoramos o orgânico. É gostoso mesmo, sem brincadeira. E neste dia, como cheguei um pouco antes da minha irmã, já fui me servindo e aguardei na mesa.
Quando minha irmã chegou, deixou sua bolsa e seu celular na mesa e foi se servir. Aguardei. 
Tô pra colocar a primeira garfada na boca quando de repente toca o telefone dela. Meu cunhado ligando.
Bom, quem conhece a gente sabe que eu e a minha irmã temos a mesma voz, e que meu pai até hoje tem dificuldades para nos diferenciar num telefonema... Atendi!
Eu atendi e o cara foi logo me chamando de amor: “oi amor!”. Eu juro que ia falar que era eu, mas eu tô carente, o cara liga e vem me chamando de amor, resolvi dar trela. Que mal tem nisso? Né?! E a conversa fluindo, falei das crianças, ele todo carinhoso... até que uma hora ele mesmo se tocou de que estava tudo muito light para um dia de semana no almoço. A minha irmã é muito brava! E ele pergunta: “quem está falando?”. Quando respondo que sou “eu”, a conversa imediatamente começa a tomar outro rumo.
No que ele engrossou achei melhor passar o telefone para ela, que lida melhor com esse tipo de comportamento. Sei lá... mas foi agradável. Amor pra cá, amor pra lá... fez bem pro meu ego!

Por fim outro tópico que discutirei futuramente em outro texto: a falta de atenção.
A falta de atenção também sempre foi uma marca registrada da nossa família.
Este final de semana tivemos o aniversário de minha sobrinha num buffet infantil e minha mãe confundiu o palhaço Rabanete com um convidado da festa chamando-o – o convidado – de palhaço Beterraba e reclamando do atraso no início da apresentação. Quer dizer, além de confundir o palhaço ainda trocou o nome dele, o que para mim soou particularmente ofensivo!
Tivemos de passar a festa evitando este pai de criança, com medo não do mal entendido, mas de ter outro ataque de riso na frente dele. Como lição proibimos a minha mãe de travar qualquer tipo de contato com palhaços de qualquer espécie. 

Melhor assim.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

O BRASIL MORREU

Hoje estamos de luto.
Luto pelo Brasil. Por todo o esforço em vão.
O Brasil morreu, a saúde morreu, a educação e a cultura morreram no mesmo corpo. As esperanças de RCP nos próximos 4 anos são praticamente nulas. No jargão médico costumamos dizer: evoluiu para óbito.
O resultado desta eleição presidencial era enfim esperado. Só temos a agradecer o esforço da oposição em brigar pela alternância do poder, mas no fundo já sabíamos que aconteceria o óbvio.
Injusto sim. Pois a força motriz, o centro econômico deste país de massa continental não elegeu esta mulher que se diz presidente. Somos obrigados a aceitar uma pessoa que não nos representa, não tem preparação alguma para o cargo que eventualmente exerce, não sabe concordância verbal, que fala errado! E por fim, que fala besteira o tempo todo, para nos “governar”.
Os motivos pelos quais ela ganhou são sacramentados e conhecidos. As pessoas que a elegeram são em sua maioria beneficiadas pelo sistema de esmolas que seu governo oferece. Um governo que dá esmolas e ilude o povo que continua na sua mais absoluta ignorância, sem educação e sem saúde, necessidades das mais prementes dentro de uma sociedade que se diz humana.
Nós não precisamos de mais médicos, precisamos sim de mais estrutura para podermos combater os males que assolam a saúde deste país.
Não precisamos de esmolas, mas de empregos, de salários descentes.
Não precisamos de impostos, e sim que se dê um destino adequado aos tributos que já pagamos.
“Nunca antes na história deste país” se viu tanto roubo e tanta corrupção como estamos vendo nestes últimos 12 anos de governo deste partido que se diz “do povo”.
A cada mês estoura mais uma grande investigação que se perde na memória curta do povo, o mesmo que se beneficia das esmolas. Aquele povo supra citado, que não tem educação nem saúde.
Com o resultado desta última eleição o povo brasileiro provou que não sabe votar, e pior ainda: que não tem dignidade. Que apoia deslavadamente este governo ladrão e corrupto.
Eu tenho vergonha como brasileira de ser representada desta forma. Uma líder que propõe dentre outras aberrações, o diálogo com o Estado Islâmico. Uma líder que diz que seu neto “tem medo do povo brasileiro”. Que fala para uma profissional liberal se especializar em um curso técnico para se colocar no mercado de trabalho, como se o retrocesso fosse a chave para o sucesso.
Só me resta concluir que é assim que eles pensam, de forma retrógrada. E são prepotentes. Querem se comparar com grandes países onde os Chefes de Estado tem estudo, mestrados, doutorados e pós-doutorados para poderem governar com a máxima confiabilidade. Onde não se desvia dinheiro público como acontece por aqui. Onde a lei existe e se faz cumprir.
Aqui não existe peso para o voto, de modo que o centro econômico, a força motriz do país tem de se sujeitar ao todo. Os que recebem esmolas do governo deveriam ser proibidos de votar pois de certa forma estão sendo tendenciosos. São mantidos neste ciclo vicioso de bolsas esmolas, sem que haja estímulo algum para se libertarem e caminharem sozinhos. As esmolas do governo são praticamente vitalícias e têm seus votos garantidos nas eleições vindouras, favoráveis ao regime de corrupção.
Hoje me sinto sem esperança e pela primeira vez em minha vida me vejo pensando em sair do Brasil.
Tenho vergonha deste governo que não me representa e de certa forma vergonha de ser brasileira neste momento.
Sem educação o povo apoia o que lhe é dito para apoiar e enquanto tivermos este governo isto não vai mudar. Provavelmente terminaremos os próximos 4 anos muito pior do que estamos hoje. O Brasil vai ser um lugar de gente burra, ignorante, manipulada e doente.
Mas o povo terá o governo que merece, que teve a chance de eleger e que colocou no poder.

E novamente termino dizendo a única coisa que resume tudo o que foi dito aqui: o brasileiro não sabe votar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

NO ESPELHO


Hoje foi um daqueles raros dias em que me olhei no espelho e prestei atenção. 
Sim, porque na correria da vida meu espelho é apenas um objeto de rotina, onde eu me vejo pela manhã com o intuito de domar o cabelo dormido para não assustar ninguém no trabalho.

Mas hoje é domingo e eu tinha tempo. Então me olhei.
Vi alguns cabelos brancos que nunca havia notado. Muitos poucos fios mas que fazem toda a diferença... Quando a luz bate, estes preciosos fios branquinhos ficam prateados e iluminam o meu semblante de uma forma espetacular. 
Como meu pai eu tenho cabelos castanhos e pouquíssimos fios maravilhosamente brancos. Gostei disso!

Depois observei meu rosto, e descobri também traços novos, sardas diferentes, leves olheiras embaixo dos meus grandes olhos castanhos, escuros.
E gostei! Meus traços me lembram de quem eu sou, de onde vim, das plásticas que nunca vou fazer. 
Gosto de ver as marcas da minha evolução pessoal porque só as pessoas de sorte é que podem colecioná-las.

Olho a vida com curiosidade e as mudanças no meu semblante só realçam a minha alegria de ter toda uma eternidade para descobrir.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

KAFKA E O EX-NAMORADO

Há algum tempo resolvi que a minha vida seria mais leve... comecei de uma forma sistemática a descartar tudo o que não me agrada e olhar para frente com curiosidade, o que muitas vezes me surpreende pela ausência de medo que isto me proporciona. Me sinto muitas vezes como um BASE Jumper, muito embora eu possa afirmar com toda a certeza que nunca pularei de nenhum precipício físico. 
Certeza!
O problema nisso tudo é que nem sempre as coisas descartam você. E lidar com a obsessão alheia, tenho de admitir, é um pé no saco.
Há mais de um ano venho feliz por não encontrar uma pessoa com quem me relacionei e que adivinhem! Isso mesmo: foi uma merda! Merda desfeita, cada um para o seu lado, nos encontramos por acaso em uma palestra há alguns dias atrás.
Agora eu pergunto: o que faz uma pessoa pensar que só porque reencontrou alguém com quem se relacionou, este alguém está disposto a refazer relações de amizade ou sei lá o que. Cara, se para mim foi uma bosta, deve ter sido ruim para você também! Então aprendam meninos: quando a mulher não responde suas mensagens de reaproximação mesmo você escrevendo todos os dias tentando um contato após um ano sem se ver, quando ao se reencontrarem a mulher simplesmente te ignora sentando até de costas para você para não ter nem que cumprimentar, quando a mulher permanece no seu mais absoluto silêncio enquanto você esperneia buscando explicações, significa que: a mulher não quer falar com você! Deu pra entender ou vou ter que desenhar?
Só que eles não desistem. Quando o cara dá para ser chato, ele age com excelência. Este por exemplo quer saber por que eu não falo com ele. Aí é que entra a parte kafkiana. No fundo eles sabem o porquê. Eles sabem muito bem o que aprontaram e todos os motivos que as mulheres têm, e de sobra!, para permanecerem no seu mais absoluto silêncio. Só que eles querem mais uma vez ouvir a ladainha toda da boca delas. Querem ser humilhados, talvez por se sentirem culpados. E não páram de repetir que desconhecem os motivos de tanta indiferença. 
Aí mais uma vez tenho de pedir clemência! Cara, me poupe!!
Vai ler um pouco porque esta história de eu não fiz nada é mais do que manjada, ô baratão.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O GASTRÔNOMO


É incrível e muito nítido o déficit educacional e cultural no nosso país.
Eu até gostaria de desenvolver este assunto, mas este não é um texto político e nem polêmico. É apenas uma constatação de fatos.
Ultimamente eu tenho andado muito intolerante. Acho tudo um saco. Vejo muitos defeitos nas coisas, sou sarcástica. Não tenho tido paciência. O que eu mais adoro é conversar com meus amigos sarcásticos, com humor pra lá de ácido, ou então ficar sozinha. Adoro muito!
E duas vezes por semana eu realizo um trabalho burocrático numa instituição da qual sou contratada. No meu atual estado de espírito eu prezo absurdamente este trabalho. Gosto quando chego lá e me tranco dentro da sala para produzir os meus relatórios. Saio com a sensação de dever cumprido, onde permaneci por algumas horas sozinha, eu comigo mesma, trabalhando sem nenhum tipo de intervenção ou aborrecimentos. 
Mas todo trabalho, por mais sozinha que você o realize, depende de um time. Eu sei disso e sou abençoada por ótimas equipes que me acompanham. E neste trabalho burocrático, na instituição, não é diferente. Tenho lá um par de colegas do secretariado que me auxiliam da seguinte forma: elas atendem primariamente os pacientes que solicitam relatórios médicos os quais devo produzir. Parece simples né! Elas atendem estas pessoas e me entregam uma relação com os dados do paciente e com os médicos das diversas especialidades em que estes passaram, dos quais eu tenho que fazer relatórios e devolver para elas. Muito funcional.
Pois bem, estava tudo correndo muito bem, quando ao virar uma página eu leio os dados do paciente em questão com o seguinte pedido anotado por uma pessoa concursada no serviço público: "favor fazer um relatório constando que este paciente passou em consulta com o Gastrônomo".
O "Gastrônomo"!
É verdade que estamos numa era de super especialidades... já vi solicitações de laudos do nêurolo e outras neoespecialidades que eu nem sabia que existiam. Mas "gastrônomo"??!! A D O R E I!!!
Foi demais! Ganhei meu dia! Fiquei imaginando que raio de serviço fazia um gastrônomo... um médico com formação em filosofia quântica e astronomia, que tratava os males do aparelho digestivo olhando as estrelas... muito, mas muito romântico!
E como não encontrei ainda nenhum gastrônomo para trocar uma idéia - o da instituição ainda não foi identificado - fica aqui a minha vontade imensa de um dia poder tomar um café e discorrer sobre as patologias dos astros digestivos. 
Se você for um gastrônomo, por favor mensagens inbox!

terça-feira, 12 de agosto de 2014

HUMANIZAÇÃO

Ultimamente deram para humanizar tudo.
Concordo plenamente com a humanização dos bichos. São bichos mas são gente pô! Sou muito entusiasta deste comportamento. Não consigo lidar com sofrimento animal, trato meus cachorros como gente, levo no pediatra de cachorro, deixo que durmam na minha cama e debaixo dos cobertores e falo com eles como se fossem pessoas. E vou te falar que eu tenho certeza de que eles entendem as coisas muito melhor do que muitos humanos por aí.
Só que essa mania de humanizar agora serve para tudo.
Outro dia eu estava ouvindo rádio como faço sempre em congestionamentos monstruosos e cada vez mais comuns, e ouvi uma jornalista falando maravilhas de uma pessoa que gostava muito do frio, que não ficava brava com pequenas variações de temperatura, que era forte e crescia sem intercorrências neste mundo cheio de poeiras e poluições diversas. Ela também tinha muita personalidade, adorava música, água em abundância, e outros mimos que agora não me recordo bem. 
Fiquei ouvindo "ela isso", "ela aquilo", e por alguns minutos imaginando de quem estariam falando. E para a minha surpresa estavam falando de uma UVA! Ela = Uva. (?!)
A colunista tinha tanto carinho pela tal uva, que de uma maneira muito real, descrevia as características e vontades da fruta como se ela - a fruta - fosse humana.
Cara, é uma fruta! E tem sentimentos! 
Aí comecei a tentar humanizar as coisas pra ver como eu me sentia. Agasalhei meu abajur no inverno, escovei meus sapatos pra eles se sentirem melhor, comecei a conversar com o meu carro e dou um beijo final em cada carga de caneta que eu tenho que jogar no lixo depois que elas acabam. Lá em casa agora é tudo humanizado. Tudo que eu tenho! Meu único medo é eles reclamarem.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

EU VOU PARA HOGWARTS

Então me preparando para as tão sonhadas férias, ontem eu resolvi uma das minhas últimas pendências antes de me desligar de todos os meios eletrônicos de comunicação.
Liguei para a operadora de cartão de crédito para desbloquear o uso de meu cartão no exterior.
Foi uma das experiências mais esotéricas que tive em toda minha vida!
Depois de apertar um monte de botões guiada por uma voz transcedental, finalmente consegui a conexão para uma voz humana que me respondia prontamente.
Foi mágico! Me atendeu uma mulher, muito boazinha e solícita, que perguntou para onde eu estava indo viajar.
Respondi de pronto: - Vou para San Martin!
- E onde fica San Martin?
- No Caribe! - respondi satisfeita.
Aí veio um silêncio sepulcral que durou até eu timidamente chamá-la com um "alô?".
E então veio a pergunta: - Mas em que continente fica o Caribe?
Aí, com medo de ficar sem cartão de crédito na viagem, expliquei com a minha voz mais maternal, que o lugar pra onde eu ia era uma minúscula ilha que pertencia metade à França e a outra metade à Holanda.
Mais um pouco de silêncio e finalmente ela me retorna com absolutamente tudo resolvido:
- Pronto, está feito. Liberei o cartão de crédito da senhora durante o período de viagem informado para que a senhora possa usá-lo livremente nesta ilha entre a França e a Holanda!
Cara, eu acho que ela está me mandando para Hogwarts! Não é o máximo!
Fiz um pouquinho de silêncio, agradeci e desliguei.
Vamos ver se vai funcionar...

domingo, 6 de julho de 2014

O FILTRO NA PAREDE

Então tá. Depois de muitos pedidos e questionamentos sobre o que aconteceu, vou contar história do filtro.

Comprei um filtro. Apesar de não ser uma extrema necessidade, eu comprei um filtro lá pra casa. Naquele momento a casa ainda estava em reforma e eu mal morava realmente no meu apartamento. Mas as lembranças de chegar do supermercado com seis ou 10 garrafas de água e ter que transportar tudo sozinha lá para cima após longos dias de trabalho, foram um incentivo sem igual para eu realizar este almejado gasto.
Estava tão feliz, os dias de trabalho forçado com carregamento intenso de garrafas estavam acabados. Nunca mais!

E finalmente chegou o grande dia. Recebi o pacote e na pressa de ver funcionando as engenhoca chamei um grande amigo para me ajudar a instalar. As instruções eram claras: o produto era de fácil instalação e não precisávamos ter conhecimentos profundos de engenharia para realizar tal feito.
Então, eu médica, e meu amigo agente de viagens, pregamos o treco na parede e instalamos facilmente a porra do filtro em exatas 12 horas de trabalho intenso. Muito fácil mesmo! Depois a merda da torneira ainda ficou vazando água por uns 4 dias até que finalmente me rendi e pedi ajuda ao pedreiro que estava reformando o apartamento, sendo que este, com conhecimentos profundos sobre o problema, arrumou tudo em menos de 5 minutos. Cara inteligente este pedreiro, porque ele arrumou e não teceu nenhum comentário a respeito do nosso serviço! Não criticou e nem elogiou. Gostei.

Bom, o filtro funcionou muito bem por exatos 9 meses. Estava escrito mesmo nas instruções - e eu sempre leio tudo que é tipo de manual, adoro! - que a validade da coisa que filtra a água era de 9 meses. 
Cravados 9 meses acendeu uma luzinha vermelha dizendo que a água que eu estava consumindo estava uma bosta. Eu olhei no manual e a legenda desta luzinha vermelha era esta mesma. Após uns dois dias desta primeira luzinha vermelha, qual a minha surpresa quando do outro lado do belíssimo filtro, me acende OUTRA luzinha vermelha: a da bateria.
Uma graça, um filtro branquinho com duas luzinhas vermelhas, uma de cada lado. 
Eu até deixei um pouco, porque afinal de contas não uso tão exaustivamente o meu filtro praquela porra vencer em exatos 9 meses. Continuei consumindo a água, como se nada tivesse acontecido. E ainda apagava todas as luzes do meu apartamento toda vez que ia tirar água do filtro só para ver as luzinhas vermelhas brilharem a cada acionamento. Muito lindo mesmo esse meu filtro.

Acontece que o cérebro da gente é uma desgraça. E eu comecei a pensar sobre as luzinhas vermelhas. Cada vez mais. Era só eu estar parada, descansando e até dormindo, que sonhava com as luzinhas vermelhas e seus significados.
Um dia tive dor de barriga e imediatamente culpei a água e a minha teimosia em não trocar o refil do filtro lindo. Resolvi tomar uma atitude.

Só que para trocar o refil eu precisava tirar o filtro da parede, que eu mesma havia pregado com tanto sacrifício. Bom, desnecessário falar aqui que a porra do filtro estava tão bem pregada na parede que demorei cerca de 6 horas tentando desencaixar o filtro dos parafusos e não consegui.
Num determinado momento até tentei com chamas e metal em brasa, e a única coisa que consegui foi derreter uma chave allen e quase colocar fogo na minha cozinha. 
Lá pela uma da manhã, arrasada emocionalmente, liguei para minha mãe que me mandou ficar longe de qualquer coisa que envolvesse fogo. Joguei fora as caixas de fósforos para não correr o risco de ter novas idéias.

Nem consegui dormir. Estava um caco de emoções e sentimentos por causa do filtro. Uma coisa tão lindinha, que me proporcionou tantos momentos felizes de ingestão de água purinha, agora se recusava a sair da parede para renovar o seu refil. Estava magoadíssima! 
O pior é que quando acordei nem tinha mais ferramentas para reiniciar a minha jornada de retirar o filtro da parede sem quebrar. Só havia restado 2 tesouras e uma chave allen parcialmente derretida. Uma tristeza.

Já estava começando a considerar a possibilidade de retirar o filtro da parede menos inteiro, quebrando um pouco. Afinal o mecanismo permaneceria intacto, só a estrutura ficaria danificada. Achei um cutelo na gaveta de talheres!
Estava realmente disposta a usar o cutelo quando tive 2 idéias. E seguindo meus instintos descobri que o meu seguro do carro dava direito a chamar alguém mais qualificado para retirar este troço da parede.
E num lampejo de idéia ainda mais extraordinário, passando por cima de todo meu orgulho, resolvi tentar o zelador do prédio antes de chamar o seguro. 
Chamei o seu Francisco, que muito humildemente chegou na minha casa carregando apenas duas chaves de fenda. E eu falei que estava tentando há horas inclusive com recursos pirotécnicos, e nada! Iluminei a face posterior do filtro com uma lanterna para que ele olhasse melhor os encaixes semi-derretidos e os desgraçados dos parafusos. E na maior humildade, o seu Francisco fez um movimento rápido com as chaves de fenda e como num passe de mágica retirou o filtro da parede em menos de 30 segundos!
Se ele trabalhasse na troca de pneus da Fórmula 1 não ia ter pra ninguém.
Dei todo o dinheiro que eu tinha na carteira pro seu Francisco. Abracei o cara, chorei de emoção. Pensei na finitude da raça humana perante a imensidão do universo. Que era quase um milagre estarmos todos vivos na superfície de um planeta como a Terra, que acima de nós estava todo um universo desconhecido... é, acho que eu estava esgotada emocionalmente.

Aí ele disse: doutora, a senhora não conseguiu desprender o filtro porque a senhora é mulher.
E de repente me dei conta de que ele era um gênio! 
Era tudo verdade. As coisas são muito mais simples do que parecem

Estou ótima agora!

terça-feira, 1 de julho de 2014

BLIND DATES PRA QUE? – UM APANHADO GERAL

Interessante como as idéias são fugazes. Pensamos e em 10 minutos... esquecemos! Muito normal, se não fosse por uma série de acontecimentos que me obrigam a lembrar disto o tempo todo.

Ultimamente tenho retornado ao tema recorrente dos blind dates. Pois é. Apaguei o meu perfil do site de relacionamentos virtuais há muito tempo, mas não consegui escapar desta modalidade de encontro, visto que sou solteira e as pessoas vivem querendo me apresentar alguém. E eu fico continuamente me perguntando: pra que???

Eu concordo que tenho um dedo podríssimo para fazer minhas escolhas pessoais, mas os blind dates são e acho que de forma imbatível, as melhores fontes de textos que tenho à minha disposição.
É divertido mas... é sempre igual! Para começar, a personalidade dos caras. Nessas alturas dos acontecimentos são na grande maioria caras separados, com filhos, sem filhos, há várias modalidades.

A gente sai, coloca a nossa melhor roupinha e aí vem o cara, geralmente meia idade, meio fora de forma, muito perfumado e poucas vezes arrumado porque homem sozinho, temos de convir, é uma desgraça. Sempre tem alguma peça na vestimenta que não combina. E sim, são caras 10 ou 15 anos mais velhos que eu porque os da minha idade ainda tem o sonho de pegar uma garotinha entre 20 e 30 anos. Estes só vão sair com a gente quando fizerem uns 50 anos. E aí também não vai dar certo porque a idade mental deles não vai acompanhar a longevidade... parece até uma profecia, mas é a pura realidade.

Então tá, saímos.

As conversas também são sempre as mesmas... giram em torno do “porque você nunca se casou” para o meu lado, e “por que a sua vida merdou” para o lado deles. Também há o momento da típica demonstração de ignorância (sempre acontece!), onde eles não fazem questão de saber o que você sabe mas eles não conhecem. Porque macho que é macho tem que saber tudo né?!! O que eles não sabem não é importante!!

Bom, após horas conversando combinamos ou não de sair de novo. Geralmente sim. 
Na maioria das vezes o cara se mostra terrivelmente ocupado, muito trabalho e reuniões importantíssimas inadiáveis, com horários parcos, mas com muita vontade de agendar um novo encontro, que geralmente marca na agenda para dali uns 10 dias, para não esquecer! Eles acham que isso faz com que pensemos: olha que cara ocupado, trabalhador, mas ele quer me ver! que legal que legal que legal!

Sinto ter de ser eu a revelar a realidade, mas meninas, não é nada disso! Quando o cara prega tachinha na maionese, é um típico, mas tipiquíssimo sinal de que ele é apenas mais um colecionador. E agora chegamos realmente ao ponto: o colecionador!
Ah, o colecionador... a definição mais apropriada seria a de um cara que obviamente: não está saindo só com você! O tiozão está botando pra quebrar! Pegando todaaaaaaasssssss!! Por isso a falta de horários, o semblante “gostei de você mas já tinha compromissos agendados antes de te conhecer”. Véio, isso é ser sem vergonha! Não quero de jeito nenhum rogar praga, mas tomara que morra de viagra. Pronto falei!

Não tem nada pior do que a pessoa fazer você gastar o seu tempo. É quase um crime! Acho que gastar tempo é muito pior do que gastar qualquer outra coisa.
Pensa bem, você está em casa, fazendo o que gosta mais que é FICAR em casa! Ler, ver televisão, brincar com os cachorros. No meu caso, eu trabalho todos os dias da semana, e chego em casa sempre muito cansada. Quase não consigo ter tempo para mim mesma. Às vezes trabalho também nos fins de semana. E quando estou na minha casa descansando considero que o meu tempo tem um valor incalculável.
Aí vem um blind date!
Quando topamos doar o nosso precioso tempo para “conhecer alguém”, esperamos que a outra pessoa também esteja fazendo o mesmo. Saindo só com você, para te conhecer e ver se rola alguma coisa. Mas não é isso que acontece. Os véio tão sempre colecionando, saindo com vááááááriaaaaaasssssss mina! Porque eles são os bons!!! E assim, vão continuando a sua busca eterna porque sem foco, nunca vai dar certo. Vão ser sempre uns carentes de merda, passando conversa nas meninas desavisadas.

Eu sei que uns véios vão ler este texto e pensar que escrevi exclusivamente para eles, mas não se dêem tanto valor! Isto é genérico, acontece o tempo todo. Assim como também existe o monopolizador telefônico virtual, o mentiroso (se bem que os colecionadores são bem mentirosos)...  O problema dos véios é que enquanto eles tão indo nós já fomos e voltamos 3 vezes. A gente continua topando blind dates acho que por pura curiosidade. É natural tentar encontrar companhia... O que não sabemos porém é que é muito melhor não ter de passar por isso! Mas a gente sempre pensa “quem sabe?” ou “vamos dar uma olhada nesse”... e o final é invariavelmente o mesmo.

Pra que??? Né???

terça-feira, 27 de maio de 2014

O SENSO ESTÉTICO DOS ALIENÍGENAS

Hoje não está sendo um bom dia. E para piorar tudo não existe nada pior do que propagandas urbanas.
Mais uma vez venho por aqui alertar sobre os malefícios dos relógios de rua. Já falei uma vez sobre isso: http://depoiseagora.blogspot.com.br/2014/04/relogios-de-rua.html
Pois é... agora deram para colocar fotos de uma modelo de sutiã e calcinha em vários destes tótens, anunciando uma lingerie acho que italiana. 
Uma mulher mais ou menos bonita está sempre na mesma pose, fotografada com os braços juntos, de frente... nem é tão sensual. 
O problema é que sempre que eu me deparo com esta foto, e tem uma porra de um tóten bem aqui na esquina, eu fico pensando: e se vier um extra-terrestre e der de cara justamente com isso? Aí comecei a ficar com vergonha dos cartazes. 
Deu pra entender?
A gente não pode ficar esfregando este senso estético na cara dos E.T.s. Imagina um alienígena chegando e dando de cara com um tronco branquelo e dois apêndices pendurados, enfeitados com faixinhas de tecido preto? É ridículo. 
Duvido que no planeta deles ia existir uma foto de um bezourão de maiô bem no meio da rua!
Os caras são desenvolvidos pô. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

O BARULHO

Há uns 10 dias resolvi voltar a tocar flauta transversal.
Estava tão feliz, praticando todos os dias, fazendo um som na sala, na varanda. Acabava de tocar e estava renovada, como se o meu stress desaparecesse por alguns instantes.
Mozart, Claude Bolling, Pixinguinha, Handel, um repertório bem eclético, estava me divertindo.
Bom, não deu nem uma semana pra eu entrar no elevador e dar de cara com um papel colado na parede explicando que naquele prédio ninguém podia fazer nenhum barulho que possivelmente incomodasse o vizinho.
Eu sei que a minha versão da Flauta Mágica parece tocada pelo Hermeto Pascoal, mas na minha concepção estava tudo certo...
Catzo de gente que não entende de música!
Parei com a flauta...
Amanhã é minha primeira aula de bateria!

domingo, 27 de abril de 2014

JÚLIA

Júlia é a mais nova integrante da nossa família.
Acho que já escrevi sobre ela, mas nunca dediquei um texto exclusivo para a sua pessoa.
A Júlia é um cachorro. Vira-lata. E eu, que nunca achei que adotaria um vira-lata, me surpreendi com essa nova maneira de ver a vida.
Eu já conhecia a Juju há alguns anos.
Trabalho uma vez por semana em um hospital onde existe uma cultura da população local de abandonar animais na portaria. Sempre tem uma alma bondosa que acaba cuidando dos cachorrinhos, e quando o bichinho é mais ajeitadinho, alguém acaba levando-o para casa.
Pois é, mas isso não aconteceu com a Júlia. A Júlia é um tipo tão comum, que nas feiras de adoção sempre penso estar vendo a foto dela. Já vi milhares de Júlias perambulando pela rua e uma vez uma protetora de bichos me disse que ela do tipo "pretinha básica".
Ela chegou ao hospital ainda filhote, brincalhona, e se adaptou muito bem nas proximidades da porta do Pronto Socorro de Adultos. Lá ela encontrou mais dois cãozinhos - o Negão e a Xuxa - e juntos fizeram um grupinho inseparável.
Eu e ela sempre tivemos afinidade. No primeiro dia em que a vi no hospital, toda pequena e disposta a fazer novas amizades, eu dei o que sobrou do meu almoço à ela. Às 19 hs, hora em saio do plantão, senti que algo me seguia, e ouvia passinhos atrás de mim... era ela! estava me esperando e me seguiu até o carro, onde ficou esperando para entrar e voltar comigo para casa. Até hoje me arrependo muito de ter deixado ela lá, na grama do estacionamento. Eu não podia ficar com ela, já tinha outros 2 cachorrinhos em casa. Ela até correu atrás do meu carro e eu chorando fui para casa, sem levar a pequena. Choro também hoje ao contar este episódio, de vergonha e de arrependimento.
Anos se passaram e ela se adaptou ao novo modo de vida no hospital, onde junto com a sua turminha parecia ser bem feliz. Ela era a líder e por vezes fazia triagem na porta do Pronto Socorro, só deixando entrar quem ela simpatizava. Ela também tinha uma mania de sorrir quando alguém lhe agradava, mania que mantém até hoje. Uma figurinha essa Júlia, com 6 dedos em cada pé, que fazem um barulhinho característico quando ela anda - tic tic tic - sempre evidente em todos os lugares.
Sempre que eu ia ao hospital, como faço até hoje, verificava os cachorrinhos abandonados por lá. Ainda vejo muitos deles e quando posso faço um carinho e dou uma parte do meu almoço para eles. O Negão e a Xuxa foram tosados este verão, mas agora já estão sujos de novo. Bem alimentados, vacinados, e abandonados, esperando pacientemente os dias passarem, deitados na porta do hospital onde às vezes alguma criança brinca com eles, faz carinho, e eu sei que eles adoram.
Mas voltando à história da Júlia, um dia cheguei para trabalhar e ela não se levantou. Estava desequilibrada, muito fraquinha, nem abanou o rabinho quando fiz um carinho. Todos os cachorros estavam debilitados, mas ela era a mais doente. E eu não pude deixar de fazer alguma coisa por ela. 
No fim do meu plantão, embrulhei a Juju num cobertorzinho e a levei para um hospital veterinário. Ela estava péssima, tinha sido envenenada, como os outros. Uma amiga veterinária me ajudou, inclusive financeiramente, com os primeiros cuidados. Eu nem tinha condições de decidir nada, só chorava, com muita pena e até alguma culpa por não ter levado ela para casa naquele dia.
Depois de uma longa internação ela saiu do hospital - a conta gigantesca ajudada por amigos e anônimos que souberam da história - e foi para minha casa, muito magrinha, muito desconfiada, com medo de tudo, com sarna, mas livre do envenenamento.
Como já tinha 2 cachorros e não podia ficar com ela porque trabalhava o dia inteiro, coloquei-a para adoção. Tentei convencer um namorado que tinha na época a ficar com ela, mas ele também não podia por trabalhar o dia todo e ter que deixar a pequena sozinha.
Ela não gostou muito da minha casa, ficava sozinha o tempo todo, sem os seus amiguinhos do hospital. Tentei por algumas semanas arrumar uma família que a adotasse, sem sucesso algum. Ficava desconfiada de quem se interessava e também pensando que ninguém ia cuidar dela melhor que eu, do que a minha própria família. 
Então decidi apresentar a Juju para meus outros cachorros. Tenho uma boxer de 12 anos que não gosta de outros cachorros, mas adorou a companhia da pequeninha vira-lata.
Meus sobrinhos também adoraram a idéia de ter um cachorrinho como a Juju e a minha sobrinha de 5 anos diz que a Júlia é dela - presente simbólico da minha pessoa. Minha sobrinha inclusive fica muito brava quando alguém fala que a Júlia é vira-lata. Tive que dizer para todo mundo que a Júlia é de uma raça muito rara chamada "pastor da Malasya", o que ela repete para quem quer que pergunte a raça do seu cachorro.
Por fim, ficamos com ela e em 20 de julho deste ano ela completa 2 anos conosco. Data também que adotamos para o seu aniversário, exaustivamente comemorado, com muitos ossinhos e biscroks.
De minha parte, me sinto muito feliz por ter adotado a Júlia e por receber dela um amor incondicional. Muitas vezes eu canto para ela. Canto mal, mas ela adora! E por vezes, depois de passearmos, sentamos na minha cama ou no chão e conversamos. Tenho muitas perguntas que gostaria que ela me respondesse... pergunto do seu passado, quem foram seus pais, se tinha irmãos... quem a abandonou...
E ela, muito mais esperta que eu, simplesmente me olha, balança o rabinho com toda a sua energia e dá uma lambida no meu rosto como que dizendo: e qual é a importância que isso tem agora?

terça-feira, 8 de abril de 2014

JANTAR

Hoje fiz um jantar maravilhoso, só não percebi que os ovos que estavam na geladeira haviam vencidos há 2 meses.
Por via das dúvidas tomei várias taças de Limoncello a fim de exterminar as possíveis bactérias.
Se eu não aparecer no trabalho amanhã, por favor mandem alguém aqui em casa verificar.
Pronto avisei.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

RELÓGIOS DE RUA

Agora deram pra consertar os relógios de rua. Olha que maravilha. Para mim é especialmente significativo, visto que para sofrer menos o stress do dia a dia parei de usar relógios há mais de 20 anos.
Não posso deixar de agradecer aos responsáveis por encher a cidade de relógios que agora, além da hora, ainda indicam a qualidade do ar, fazendo com que a cada esquina eu me lembre que estou atrasada e como se não bastasse isso, ainda estou respirando um ar de merda.
Muito obrigada pessoal!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

CALOR

Calor calor calor insuportável. Que faz tudo o que se move inerte. No máximo letárgico.
Me lembra aqueles filmes de faroeste onde se ouve apenas a mosca que insiste em atormentar os figurantes estáticos.
Hoje tudo dormiu. Eu e meus cachorros passamos o dia delirando, ora dormindo ora acordados, lendo e dormindo, dormindo e lendo. Eu lendo, não os cachorros, que fique bem claro. Se bem que estava tão calor que posso afirmar com quase certeza que minha boxer leu o Estadinho de ontem - suplemento infantil - enquanto eu dormia.
Agora à noitinha depois que o sol se foi, saímos todos, fomos ver a rua em transe calórico.
Depois enchi a banheira de água fria e gelo que logo ficou quente. Mas consegui ficar uns bons minutos mergulhada no gelo ouvindo a Rosamaria cantar "summertime... your heart will come a'live again...". Numa balada letárgica igual ao dia de hoje... Várias vezes, repetidamente, até a água esquentar.
E foi bom!