terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

DA SÉRIE: SOBRE NOSSAS PROFISSÕES - Texto escrito por Luna, colaboradora deste blog

Depois de uma entressafra prolongada, divido neste espaço minha experiência com pérolas. Não aquelas preciosidades encontradas nas conchas, ofertadas pelo mar e que decoram com tanta elegância nossos colos. Trata-se de pérolas oferecidas durante anos de labuta, e que muito enfeiam nossos pensamentos. Sendo médica, não poucas vezes tento reprimir o riso ou um mau juízo. Vinte anos se vão daquele dia em que colei grau. E é baseada nisso que concluo que humildade cai bem, muito bem. Se eu não sei, não discuto. E ponto final. Não é anti-democrático, é meritocrático mesmo, sem arrogância. Sempre gostei muito de estudar tromboembolismo venoso. Não há grandes segredos ou mistérios, no entanto me fascina a possibilidade de um diagnóstico que vá além da manifestação que motiva o doente ao meu consultório. Trombofilias, colagenoses, neoplasias e pós-operatórios. Mas doutora, eu usei “Glexane” por dez dias... Às vezes não é possível convencer a pessoa que o nome comercial original do medicamento enoxaparina é Clexane. Trata-se de convencimento mesmo, já que esclarecer é tão difícil, ainda pior para os clientes de carteirinha do Dr. Google. Não que esteja escrito “Glexane” em alguma página localizada pelo Google... E quanto às tromboses, não vou me ater ao clichê que “vai ter que cortar a minha perna?”. Não, nada disso. Simplesmente relatarei, para adicionar à coletânea de pérolas, algumas coisas que fui obrigada a engolir (mas não a digerir!). Tenho uma trombose na perna esquerda. E a minha á venenosa. Que diabos é isso? Foi acometido por uma trombose venosa depois de uma picada de cobra!? Ou seria de um escorpião? Nada disso, era espontânea mesmo. Estou tratando uma trombose muito complexa. É do mais alto grau. Terceiro grau. Trombose ou queimadura, Deus do céu? Ou seria algum tipo de contato imediato!? Minha irmã, que é ginecologista, certa vez foi tentar investigar a morte súbita e inesperada da mãe de uma paciente. Recebeu como resposta “rasgou o véu da veia artéria, ela foi operada, mas não resistiu”. Entendo. Poetizar a morte é uma forma de sublimação. Só não entendi se se tratava de um aneurisma roto da aorta, ou mesmo cerebral, ou ainda uma dissecção da aorta. Até hoje ficamos na mesma. E o Pyloripac? Depois de muita insistência, minha irmã estava quase acreditando na paciente, cuja infecção urinária se manifestou após o início desta medicação, acrescida de um prurido vulvar constante. De nada adiantou sugerir à dita paciente que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Entre parêntesis, será que é por isso que o nosso querido ex-presidente nunca soube – e nem vai saber - de nada? Do nervo asiático quase me abstive de comentar, mas por aqui ele vem quase sempre acompanhado da “astrosi”. Gostaria de perguntar a um Ortopedista onde fica o nervo asiático, mas talvez seja melhor recorrer a um Geógrafo. Muito bem, sempre o associei à Rússia, devido ao território abrangido. Mais vasta que a Rússia não há, porém, a um melhor juízo, penso que não. O território do nervo não é circunferencial. Seria possível planificar o globo terrestre? De volta à cirurgia vascular, quero esclarecer que varizes são causa de divórcio. Uma paciente me explicou, há anos, que se separou devido à presença e à recidiva das malditas. Dieta no pós-operatório de varizes. Para os incautos, esclareço: em algumas das regiões de nossa pátria amada, dieta não quer dizer dieta como restrição alimentar. Significa uma série de restrições (sim, brasileiro a-d-o-r-a perguntar o que ele não pode!) associadas a uma doença ou recuperação de cirurgia. Úlcera de estase venosa é erisipela e ponto final. Celulite é um problema terrível de “má“ circulação (em tempo: não se trata de celulite como inflamação do tecido subcutâneo, e sim daqueles famigerados furinhos). Então estria deve ser também, sabe-se lá... E, para concluir – por hoje - uma singela homenagem aos primeiros anos de residência: a minha vesícula foi retirada a laser. Atire a primeira pedra o colega que nunca escutou essa.

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