quarta-feira, 18 de julho de 2012

REFLEXÕES DE VIAGEM

Eu tenho fé na humanidade... quer dizer, eu tinha... terei?
É isso mesmo, na verdade eu não sei mais. Tô meio confusa a esse respeito. 
Sempre achei que a humanidade ia salvar o mundo, que as coisas sempre mudariam para melhor, que a gente daria um jeito na fome e no aquecimento global e que alguém faria alguma coisa a respeito de tudo!, mas com o passar dos anos perdi um pouco esse senso de esperança. Fiquei cética, mais cética. Repetindo um conhecido chavão, a esperança não é a última que morre, é a penúltima. Depois dela morre você. E eu tenho de concordar.
Não que eu não ache que as coisas vão melhorar - falando no sentido mais genérico da filosofia eu até que acho... - mas com o passar dos anos eu comecei a pensar que o negócio era correr mesmo cada um por si. Praticamos o bem, fazemos coisas de acordo com a nossa consciência, sem atos ou idéias que agridam nossa maneira de sobreviver. Às vezes ajudamos os outros, às vezes ajudamos a nós mesmos, às vezes só paramos e olhamos. E eu acho que essa é a melhor forma de viver: com a consciência limpa. Cada um com a sua.
Mas o que me levou a pensar nisso foi mais um momento de reflexão que tive em minha viagem de férias.
Fui obviamente visitar muitos monumentos históricos e como qualquer pessoa que imagino interessada, quis saber e entender um mínimo que seja da história dos lugares que fui.
E sabe o que eu percebi? Que as pessoas não mudam! 
No Coliseu por exemplo, cheguei bem cedinho, quase que madruguei. Comprei meu ingresso numa fila até que bem pequena para os padrões locais, e na falta de um guia de carne e osso optei por alugar um audioguide. Na verdade o audioguia é a melhor das invenções para viajantes que não querem perder tempo. 
Pois bem... história vai e história vem, me descobri comentando com minha amiga e minha irmã sobre os detalhes das batalhas dos gladiadores. E depois percebemos que ficamos quase que o tempo inteiro só falando sobre isso. Imaginando como e por onde eles entravam, o que sentiam, como lutavam e como morriam, com ou sem animais envolvidos. E pelos gestos dos turistas a minha volta, o pensamento dos outros também não estava muito longe dalí. 
Aí fui ver o guia de papel que sempre carrego comigo. Esperava obter mais detalhes sobre a construção, arquitetura, modo de vida na época em que este era o palco mais divertido da cidade, e qual não foi minha surpresa ao descobrir que o guia só falava das batalhas. Armas, combates, mortes. E maior ainda a minha surpresa ao me descobrir lendo o guia em voz alta, simulando a batalha como num teatro, assistida por um grupo turístico de língua portuguesa que ao final aplaudiu ferozmente a performance. Minha irmã demorou um pouco pra acordar após o golpe final, mas está tudo bem agora. 
Posso dizer então que o resumo desta empreitada foi que ficamos por quase 3 horas dentro do tal Coliseu só pensando em como funcionava tudo por ali. Depois fomos no Circus Maximus e ao descobrir que lá morreu mais gente do que no próprio Coliseu, ficamos fascinadas. Morreu como? Lutavam como? E o por que não fingiam de mortos para escapar ao combate? Bom, isso era porque os romanos espetavam os corpos mortos com um ferro em brasa para desestimular a prática do fingimento. Terrível né? Mas fascinante.
Por que tanta gente estuda a crucificação? O que leva as pessoas a quererem saber detalhes sórdidos de torturas e santos martirizados?
O UFC não deixa de ser uma versão moderna dos combates ancestrais.
Em Amsterdã por exemplo tinha o Museu Van Gogh, o Rijkmuseum, a Casa deRembrandt, todos repletos de obras de arte, mas adivinha onde o povo estava concentrado? É pessoal! No Museu da Tortura. Imagina o tamanho da fila. Nem fui! E olha, eu tava morrendo de vontade de ir. Pô, tanta coisa bonita pra ver em Amsterdã, e a gente querendo ir no Museu da Tortura! E quando voltei de viagem um amigo ainda perguntou "você foi pra Amsterdã??? E aí!! Foi no Museu da Tortura??? É demais!!!".
Bom, só pra citar mais uma história parecida, uma vez meus pais foram a Tarascon e pegaram a cidade em meio à um Festival Medieval. E adivinha qual a barraquinha mais concorrida entre as tantas armadas para a festa? Isso mesmo: a barraquinha da tortura, onde cidadãos fantasiados como na Idade Média imitavam práticas de tortura medieval, com direito a toda sonoplastia competente. Divertidíssimo, segundo relatos!
A natureza humana não muda mesmo. Suaviza, ameniza, fica novamente agressiva, e se normaliza para depois começar tudo de novo. É cíclico. 
Quanto à mim, já aprendi a comprar entradas de museus pela net. Da próxima vez nada me escapará!

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