sexta-feira, 13 de julho de 2012

O CHOQUE CULTURAL

Recentemente saí de férias e viajei para a sempre boa e velha Europa.
Eu adoro viajar e viagem à Europa para mim é igual supermercado: eu tenho que ler todos os rótulos, passar por todas as gôndolas e saber exatamente tudo o que está acontecendo, ou no caso da Europa tudo o que já aconteceu por ali, antes de me dar por satisfeita.
O pior é que sempre volto de lá com a sensação de que mais da metade das coisas interessantes aos meus olhos passaram desapercebidas. E, melhor ou pior de tudo, dependendo do ângulo em que se mira a curiosidade, volto sempre sentindo que na próxima viagem vou ter de voltar lá pra ver o que deixei de ver nessa (viagem).
Desta vez viajei no verão europeu. Que delícia! Uma viagem totalmente diferente das outras que havia feito no inverno.
O verão europeu é muito semelhante ao nosso quando se trata de cidades mais ao sul. Já ao norte, o verão é como se fosse nosso inverno. Um calor agradável no sol e um frio da porra na sombra. Muita chuva, tempo cinza, casacos sobre shorts e mangas curtas, colocados e retirados incessantemente no decorrer do dia, ora frio ora quente. Isso não impede porém que a população local se vista de acordo com a estação, levando à risca quando o serviço meteorológico diz que é verão, o que nos leva a ver muita gente de shorts, chinelinhos e mangas curtas num frio que para nós é de rachar os ossos.
Mas o que mais me chamou a atenção desta vez foi a diversidade cultural em meio ao mundo de turistas andando de lá para cá com mapas nas mãos. Isso mesmo, mapas de papel. Embora possamos contar hoje em dia com o conforto de um GPS, não encontrei turistas que usufruíssem do aparelho. Porque, convenhamos, não existe nada mais romântico do que fazer turismo como nos velhos tempos, com um bom mapa de papel e um belo guia pesando quilos, trazido às custas na bagagem de mão, no qual já fizemos anotações para passar o tempo durante o longo vôo de ida. 
É uma emoção chegar a um lugar no qual nunca estivemos e nos deparar frente a frente com monumentos e obras de arte que um dia vimos em gravuras nos livros de história do primário. E olha que para mim é emoção elevada à décima potência, tendo em vista que minha memória é uma merda. 
E eu ainda anoto tudo. Incrível não? Hoje em dia tem o Google e milhões de opções de obtenção de informação na ponta dos dedos - quando estes estão grudados ao teclado, é claro - mas eu acho que não há nada mais gostoso do que ler anotações de viagem e lembrar com detalhes um dia específico ou uma coisa que aprendi visitando algum lugar. 
Geralmente eu leio estas anotações no intercurso de alguma outra viagem, visto que só abro meu caderninho de anotações quando estou realmente viajando. Mas é gostoso mesmo assim.
Bom, voltando à diversidade cultural, é interessante observar a quantidade de turistas como nós, indo e vindo, como formiguinhas desorientadas numa grande metrópole, olhando as coisas com curiosidade e muitas vezes dando a entender conclusões tiradas e explicações que dão uns aos outros, fugindo totalmente do propósito do assunto em questão. Tenho certeza de ter visto um grupo de turistas em Amsterdam procurando informações sobre visualização de baleias nos canais do Rio Amstel. Se bem que Amsterdam não é muito parâmetro né... enfim...
Em Roma por exemplo eu e minha irmã fomos surpreendidas por uma turista indiana, vestida à caráter, que me parecia estar viajando sozinha. Ela e a sua máquina fotográfica. A moça se aproximou da gente e gentilmente perguntou num inglês macarrônico se podíamos tirar uma foto dela em frente ao Coliseu. Minha irmã que é dada a interagir e na maioria das vezes ingenuamente me faz passar verdadeiros perrengues, logo se prontificou e praticamente arrancou a máquina da mão da mulher. Já tomando conta de tudo, indicou à moça o melhor lugar para se posicionar em frente ao monumento colossal, e levou aí alguns minutos procurando o melhor ângulo para clicar o instantâneo digital. 
Pois bem, tudo arranjado, minha irmã muito satisfeita disparou a câmera da indiana e num inglês macarrônico logo chamou a mocinha para apreciar a bela foto no visor microscópico de sua câmera. No que minha irmã perguntou se ela havia gostado da foto, a moça balançou a cabeça látero-lateralmente com um sorriso nos lábios e tentou pronunciar alguma coisa num inglês pior do que o da minha irmã. Bom, bastou isso para a minha irmã novamente arrancar a máquina das mãos da mulher antes que a coitada pudesse tentar gestualmente terminar a frase que estava ensaiando começar com o comentário sobre a foto contido nas palavras a serem ditas.
E minha irmã foi logo dizendo "olha, 'peraí', se não gostou eu tiro outra!". E novamente posicionou a modelo em frente ao gigantesco monumento histórico, clicando em seguida do que supôs ser o melhor ângulo. Pronto! Mais uma vez, chamou a mocinha que toda sorridente olhou para a foto e balançou a cabeça látero-lateralmente, olhando minha irmã nos olhos. 
Nesse momento eu posso dizer que me considero uma pessoa de sorte porque cheguei bem a tempo de evitar um incidente diplomático! No que a mulher - coitada - olhou para a minha irmã e balançou a cabeça, os olhos de minha irmã começaram a faiscar e eu só me dei conta de que havia aí um choque cultural quando a minha irmã salivando ódio e soltando fogo pelas ventas vira pra mim e fala: "mas não é possível que ela não gostou da foto!! eu tirei duas fotos maravilhosas e não tô aqui o dia todo à disposição dessa vaca!! deve ter ficado ruim porque ela é feia pra caralho!! desse jeito não tem fotógrafo que acerta!!". E quando olhei, estava lá a indiana toda sorridente, embora com um sorriso tímido, balançando a cabeça látero-lateralmente para minha irmã. Coitada - da indiana.
Foi aí que me dei conta de que ela tinha gostado da foto e que desde o primeiro disparo ela já tinha se dado por satisfeita, balançando assim a cabeça em sinal de aprovação. Agradeci então a moça por ter gostado da foto, peguei minha irmã pelo braço e fomos embora antes que ela batesse na pobre mulher, viajando sozinha, coitada de novo. Deu o azar de pedir uma foto pra gente!
E isso só não foi pior do que o dia em que minha irmã, querendo comprar um depilador à bateria, me fez perguntar em inglês para a mulher do caixa da loja se o depilador também fazia massagem. A caixa, uma senhora gorda e loira olhou pra mim e soltou um "uáuuuuuu", antes de me direcionar pra uma sex shop.
E minha irmã tem então uma dívida eterna comigo por causa deste segundo episódio. EU AINDA ME LEMBRO DISSO VIU DANIELA!

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