domingo, 29 de julho de 2012

Reflexões

Fóruns e debates sempre me despertaram interesse e curiosidade. A comunicação virtual possibilitou interação rápida e certamente enriquece as ideias dos que se propõem a expor seu ponto de vista.
Como uma brincadeira, perguntei a algumas amigas (todas casadas, por sinal) onde poderíamos encontrar “coisas” como cabelos esvoaçantes logo pela manhã, coelhinho da Páscoa, Papai Noel e homem bonzinho (razoável já seria suficiente), sim estas “coisinhas” com as quais toda mulher sonha... ou pelo menos a maioria de nós.

Obtive respostas de todas, resumindo as proposições:

Nos contos de fadas...uma fábula infantil, talvez?
Eu diria que não, não era para ser uma “pegadinha”.

Na infância (cabelo de criança é bonito, coelhinho da Páscoa e Papai Noel sempre vêm, às vezes com fartura, até) e homem bonzinho é o pai.
Sim, só se for o próprio pai...

Talvez com o gênio da lâmpada, o que carece de muita atenção, pois tradicionalmente só se tem direito a três pedidos.
O que escolher!? Como o coelhinho da Páscoa e Papai Noel não existem e alguns outros seres são uma espécie em extinção (eles já existiram?), quem sabe um belo cabelo? Ainda sobrariam dois sonhos de consumo...



NOTA: a brincadeira não é nenhum recalque, não pretende incitar guerra entre os sexos, tampouco visa à alguma vingança pessoal ou coletiva. Pode ser considerada uma brincadeira entre amigas, a mesma coisa entre amigas pouco ocupadas por ocasião do envio de seus emails, o início de uma discussão sobre sonhos de consumo femininos em tempos atuais ou uma singela homenagem ao dia dos Pais!


sexta-feira, 27 de julho de 2012

O LIVRE ARBÍTRIO E O CARRINHO DE PIPOCA

Alguém por acaso acredita em livre arbítrio?
Pois é... já faz um tempo que penso sobre isso. 
E sabe o que eu acho? Que o livre arbítrio não existe. Mesmo.
Claro que com pequenas ressalvas... acredito que a gente consegue mudar algumas coisas escolhendo direções, mas o que tem de ser será, impiedosamente e sem sombras de dúvidas.
Hoje por exemplo ouvi uma propaganda no rádio sobre um espetáculo de balé, de "tirar o fôlego". Deus me livre de assistir uma coisa dessas, alguém já ficou sem ar pra ver como é terrível? Essa é uma figura de expressão tão infeliz, mas tão infeliz, que me fez novamente divagar por este tema, o qual nem gosto muito de repensar. O livre arbítrio.
Eu comecei tanto a achar que as coisas tem a sua hora para acontecer, que invariavelmente me pego olhando para os lados com um complexo persecutório, achando que se for aquela a minha hora, vai aparecer um carro, um disco voador ou um animal não identificado correndo loucamente pela rua a qual atravesso, sem que eu tenha a mínima chance de escapar. 
Mas eu acho isso mesmo. Quantas vezes não atendi gente no pronto socorro, atropelados por exemplo, que não faziam a mínima idéia de onde ou como ou quando havia surgido o veículo que os acertou. 
Uma vez eu mesma fui atropelada por um carrinho de pipoca que - juro! - só pode ter caído do céu. E olha que carrinho de pipoca eu identifico a quilômetros de distância! Esse aí, por um acaso do destino eu não só não enxerguei, como me estabaquei de encontro, espalhando pipoca para todos os lados. E vou te falar mais: o pipoqueiro tinha uma cara bem estranha. Pode ser que ele foi enviado por alguma entidade para se chocar comigo... vai saber. E tem mais uma coisa ainda: eu fui e me choquei com o tal carrinho. Uns 10 minutos depois, quando voltei pelo mesmo caminho, o carrinho de pipoca havia sumido como se nunca tivesse existido por ali. Muito estranho.
A primeira vez em que pensei sobre isso foi quando eu estava no 5o. ano da faculdade de medicina. Eu passava por um estágio na Clínica Médica e me deparei com pacientes e suas doenças em estágios diversos. Jovens, velhos, muito e pouco doentes. E uma coisa que sempre me chamava atenção era o fato de que as pessoas melhoravam e pioravam muitas vezes independentemente do tratamento proposto. A gente estudava, passava visita nos pacientes, revirava as doenças de cima a baixo, mas os que tinham de morrer por exemplo, morriam independentemente de nós. Lembro de um episódio com um paciente o qual um colega de turma era responsável. O paciente em questão sofria de uma doença infecciosa que na época era quase que uma sentença de morte. Pois bem, depois de muitos baixos e sofrimentos, conseguiram por fim estabilizar o doente, um cara jovem, muito humilde, guerreiro que lutava com braveza para sobreviver. Todos estavam muito felizes com a melhora clínica do garoto que já seguia com a alta programada para aquele dia fatídico em que finalmente se engasgou com um fio de macarrão. Spaghetti! Porra, o cara tinha uma doença incurável! E quando a equipe médica conseguiu o impossível, ele se engasgou com o macarrão do seu derradeiro almoço. E morreu! 
Nesse meio tempo eu cuidava de uma senhorinha diabética, com quadro clínico e idade para pensarmos que ela não sairia dessa, e que um belo dia acordou e estava boa. Não curada, mas boa para sair do hospital gritando que não foi dessa vez. 
Incrível mesmo. Não adianta a gente agir ou escolher o caminho. As nossas datas estão marcadas. O que tiver de ser vai ser. Se a gente escolher um tratamento e se livrar de uma doença ou se escolhermos uma estrada e evitarmos um acidente, eu sei - é mórbido!, mas se a gente escolher e mantiver a vida, isso só terá acontecido porque realmente ainda não chegou a hora. Tudo está programado!
O gene que causa uma doença específica tem a sua hora de funcionar, o aneurisma tem a hora certa para explodir, e as pessoas tem as suas horas boas e ruins pré-determinadas desde o momento em que nascem. Aqui eu tô logicamente abordando só as ruins porque dá mais ibope né!
Por isso é que ando na rua e olho para um lado e para o outro, e também para cima por via das dúvidas. As coisas se materializam na nossa frente se tiverem de acontecer. Aquela história de pronto socorro em que o cara fala "nem sei de onde veio o carro que me atropelou", é a pura realidade. Veio do nada, se materializou, apareceu! Estava ali no momento programado.
Igualzinho ao carrinho de pipoca.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

REFLEXÕES DE VIAGEM

Eu tenho fé na humanidade... quer dizer, eu tinha... terei?
É isso mesmo, na verdade eu não sei mais. Tô meio confusa a esse respeito. 
Sempre achei que a humanidade ia salvar o mundo, que as coisas sempre mudariam para melhor, que a gente daria um jeito na fome e no aquecimento global e que alguém faria alguma coisa a respeito de tudo!, mas com o passar dos anos perdi um pouco esse senso de esperança. Fiquei cética, mais cética. Repetindo um conhecido chavão, a esperança não é a última que morre, é a penúltima. Depois dela morre você. E eu tenho de concordar.
Não que eu não ache que as coisas vão melhorar - falando no sentido mais genérico da filosofia eu até que acho... - mas com o passar dos anos eu comecei a pensar que o negócio era correr mesmo cada um por si. Praticamos o bem, fazemos coisas de acordo com a nossa consciência, sem atos ou idéias que agridam nossa maneira de sobreviver. Às vezes ajudamos os outros, às vezes ajudamos a nós mesmos, às vezes só paramos e olhamos. E eu acho que essa é a melhor forma de viver: com a consciência limpa. Cada um com a sua.
Mas o que me levou a pensar nisso foi mais um momento de reflexão que tive em minha viagem de férias.
Fui obviamente visitar muitos monumentos históricos e como qualquer pessoa que imagino interessada, quis saber e entender um mínimo que seja da história dos lugares que fui.
E sabe o que eu percebi? Que as pessoas não mudam! 
No Coliseu por exemplo, cheguei bem cedinho, quase que madruguei. Comprei meu ingresso numa fila até que bem pequena para os padrões locais, e na falta de um guia de carne e osso optei por alugar um audioguide. Na verdade o audioguia é a melhor das invenções para viajantes que não querem perder tempo. 
Pois bem... história vai e história vem, me descobri comentando com minha amiga e minha irmã sobre os detalhes das batalhas dos gladiadores. E depois percebemos que ficamos quase que o tempo inteiro só falando sobre isso. Imaginando como e por onde eles entravam, o que sentiam, como lutavam e como morriam, com ou sem animais envolvidos. E pelos gestos dos turistas a minha volta, o pensamento dos outros também não estava muito longe dalí. 
Aí fui ver o guia de papel que sempre carrego comigo. Esperava obter mais detalhes sobre a construção, arquitetura, modo de vida na época em que este era o palco mais divertido da cidade, e qual não foi minha surpresa ao descobrir que o guia só falava das batalhas. Armas, combates, mortes. E maior ainda a minha surpresa ao me descobrir lendo o guia em voz alta, simulando a batalha como num teatro, assistida por um grupo turístico de língua portuguesa que ao final aplaudiu ferozmente a performance. Minha irmã demorou um pouco pra acordar após o golpe final, mas está tudo bem agora. 
Posso dizer então que o resumo desta empreitada foi que ficamos por quase 3 horas dentro do tal Coliseu só pensando em como funcionava tudo por ali. Depois fomos no Circus Maximus e ao descobrir que lá morreu mais gente do que no próprio Coliseu, ficamos fascinadas. Morreu como? Lutavam como? E o por que não fingiam de mortos para escapar ao combate? Bom, isso era porque os romanos espetavam os corpos mortos com um ferro em brasa para desestimular a prática do fingimento. Terrível né? Mas fascinante.
Por que tanta gente estuda a crucificação? O que leva as pessoas a quererem saber detalhes sórdidos de torturas e santos martirizados?
O UFC não deixa de ser uma versão moderna dos combates ancestrais.
Em Amsterdã por exemplo tinha o Museu Van Gogh, o Rijkmuseum, a Casa deRembrandt, todos repletos de obras de arte, mas adivinha onde o povo estava concentrado? É pessoal! No Museu da Tortura. Imagina o tamanho da fila. Nem fui! E olha, eu tava morrendo de vontade de ir. Pô, tanta coisa bonita pra ver em Amsterdã, e a gente querendo ir no Museu da Tortura! E quando voltei de viagem um amigo ainda perguntou "você foi pra Amsterdã??? E aí!! Foi no Museu da Tortura??? É demais!!!".
Bom, só pra citar mais uma história parecida, uma vez meus pais foram a Tarascon e pegaram a cidade em meio à um Festival Medieval. E adivinha qual a barraquinha mais concorrida entre as tantas armadas para a festa? Isso mesmo: a barraquinha da tortura, onde cidadãos fantasiados como na Idade Média imitavam práticas de tortura medieval, com direito a toda sonoplastia competente. Divertidíssimo, segundo relatos!
A natureza humana não muda mesmo. Suaviza, ameniza, fica novamente agressiva, e se normaliza para depois começar tudo de novo. É cíclico. 
Quanto à mim, já aprendi a comprar entradas de museus pela net. Da próxima vez nada me escapará!

sexta-feira, 13 de julho de 2012

O CHOQUE CULTURAL

Recentemente saí de férias e viajei para a sempre boa e velha Europa.
Eu adoro viajar e viagem à Europa para mim é igual supermercado: eu tenho que ler todos os rótulos, passar por todas as gôndolas e saber exatamente tudo o que está acontecendo, ou no caso da Europa tudo o que já aconteceu por ali, antes de me dar por satisfeita.
O pior é que sempre volto de lá com a sensação de que mais da metade das coisas interessantes aos meus olhos passaram desapercebidas. E, melhor ou pior de tudo, dependendo do ângulo em que se mira a curiosidade, volto sempre sentindo que na próxima viagem vou ter de voltar lá pra ver o que deixei de ver nessa (viagem).
Desta vez viajei no verão europeu. Que delícia! Uma viagem totalmente diferente das outras que havia feito no inverno.
O verão europeu é muito semelhante ao nosso quando se trata de cidades mais ao sul. Já ao norte, o verão é como se fosse nosso inverno. Um calor agradável no sol e um frio da porra na sombra. Muita chuva, tempo cinza, casacos sobre shorts e mangas curtas, colocados e retirados incessantemente no decorrer do dia, ora frio ora quente. Isso não impede porém que a população local se vista de acordo com a estação, levando à risca quando o serviço meteorológico diz que é verão, o que nos leva a ver muita gente de shorts, chinelinhos e mangas curtas num frio que para nós é de rachar os ossos.
Mas o que mais me chamou a atenção desta vez foi a diversidade cultural em meio ao mundo de turistas andando de lá para cá com mapas nas mãos. Isso mesmo, mapas de papel. Embora possamos contar hoje em dia com o conforto de um GPS, não encontrei turistas que usufruíssem do aparelho. Porque, convenhamos, não existe nada mais romântico do que fazer turismo como nos velhos tempos, com um bom mapa de papel e um belo guia pesando quilos, trazido às custas na bagagem de mão, no qual já fizemos anotações para passar o tempo durante o longo vôo de ida. 
É uma emoção chegar a um lugar no qual nunca estivemos e nos deparar frente a frente com monumentos e obras de arte que um dia vimos em gravuras nos livros de história do primário. E olha que para mim é emoção elevada à décima potência, tendo em vista que minha memória é uma merda. 
E eu ainda anoto tudo. Incrível não? Hoje em dia tem o Google e milhões de opções de obtenção de informação na ponta dos dedos - quando estes estão grudados ao teclado, é claro - mas eu acho que não há nada mais gostoso do que ler anotações de viagem e lembrar com detalhes um dia específico ou uma coisa que aprendi visitando algum lugar. 
Geralmente eu leio estas anotações no intercurso de alguma outra viagem, visto que só abro meu caderninho de anotações quando estou realmente viajando. Mas é gostoso mesmo assim.
Bom, voltando à diversidade cultural, é interessante observar a quantidade de turistas como nós, indo e vindo, como formiguinhas desorientadas numa grande metrópole, olhando as coisas com curiosidade e muitas vezes dando a entender conclusões tiradas e explicações que dão uns aos outros, fugindo totalmente do propósito do assunto em questão. Tenho certeza de ter visto um grupo de turistas em Amsterdam procurando informações sobre visualização de baleias nos canais do Rio Amstel. Se bem que Amsterdam não é muito parâmetro né... enfim...
Em Roma por exemplo eu e minha irmã fomos surpreendidas por uma turista indiana, vestida à caráter, que me parecia estar viajando sozinha. Ela e a sua máquina fotográfica. A moça se aproximou da gente e gentilmente perguntou num inglês macarrônico se podíamos tirar uma foto dela em frente ao Coliseu. Minha irmã que é dada a interagir e na maioria das vezes ingenuamente me faz passar verdadeiros perrengues, logo se prontificou e praticamente arrancou a máquina da mão da mulher. Já tomando conta de tudo, indicou à moça o melhor lugar para se posicionar em frente ao monumento colossal, e levou aí alguns minutos procurando o melhor ângulo para clicar o instantâneo digital. 
Pois bem, tudo arranjado, minha irmã muito satisfeita disparou a câmera da indiana e num inglês macarrônico logo chamou a mocinha para apreciar a bela foto no visor microscópico de sua câmera. No que minha irmã perguntou se ela havia gostado da foto, a moça balançou a cabeça látero-lateralmente com um sorriso nos lábios e tentou pronunciar alguma coisa num inglês pior do que o da minha irmã. Bom, bastou isso para a minha irmã novamente arrancar a máquina das mãos da mulher antes que a coitada pudesse tentar gestualmente terminar a frase que estava ensaiando começar com o comentário sobre a foto contido nas palavras a serem ditas.
E minha irmã foi logo dizendo "olha, 'peraí', se não gostou eu tiro outra!". E novamente posicionou a modelo em frente ao gigantesco monumento histórico, clicando em seguida do que supôs ser o melhor ângulo. Pronto! Mais uma vez, chamou a mocinha que toda sorridente olhou para a foto e balançou a cabeça látero-lateralmente, olhando minha irmã nos olhos. 
Nesse momento eu posso dizer que me considero uma pessoa de sorte porque cheguei bem a tempo de evitar um incidente diplomático! No que a mulher - coitada - olhou para a minha irmã e balançou a cabeça, os olhos de minha irmã começaram a faiscar e eu só me dei conta de que havia aí um choque cultural quando a minha irmã salivando ódio e soltando fogo pelas ventas vira pra mim e fala: "mas não é possível que ela não gostou da foto!! eu tirei duas fotos maravilhosas e não tô aqui o dia todo à disposição dessa vaca!! deve ter ficado ruim porque ela é feia pra caralho!! desse jeito não tem fotógrafo que acerta!!". E quando olhei, estava lá a indiana toda sorridente, embora com um sorriso tímido, balançando a cabeça látero-lateralmente para minha irmã. Coitada - da indiana.
Foi aí que me dei conta de que ela tinha gostado da foto e que desde o primeiro disparo ela já tinha se dado por satisfeita, balançando assim a cabeça em sinal de aprovação. Agradeci então a moça por ter gostado da foto, peguei minha irmã pelo braço e fomos embora antes que ela batesse na pobre mulher, viajando sozinha, coitada de novo. Deu o azar de pedir uma foto pra gente!
E isso só não foi pior do que o dia em que minha irmã, querendo comprar um depilador à bateria, me fez perguntar em inglês para a mulher do caixa da loja se o depilador também fazia massagem. A caixa, uma senhora gorda e loira olhou pra mim e soltou um "uáuuuuuu", antes de me direcionar pra uma sex shop.
E minha irmã tem então uma dívida eterna comigo por causa deste segundo episódio. EU AINDA ME LEMBRO DISSO VIU DANIELA!