terça-feira, 17 de abril de 2012

Panfletagem

Dia após dia, com as janelas devidamente cerradas, recuso
cortesmente, ou tanto quanto posso, panfletos. A lógica, muito simples. Trafega
isolado quem pede sossego. Quiçá para apreciar música, ouvir a um noticiário,
por temor à arma branca que se esconde na manga do delinquente, talvez para
evitar o cheiro dos combustíveis.
A panfletagem, este capítulo à parte, com sua agressão
dirigida ao meio ambiente. Cada folha de papel, aquele amontoado no fim do dia.
Lixo. Direto pro lixo. Coleta seletiva, cesto da cozinha, lá se vai, sem nem
mesmo uma olhadinha.
Definitivamente não quero comprar um apartamento situado a
20 minutos do centro, ou seja, a uns sessenta quilômetros, nem estou
interessada num financiamento irrecusável de uma empresa com nome suspeitíssimo.
E a dona Fernanda, a vidente, não perguntei por seu telefone, perguntei?
Outra coisa, porém, é olhar para a pessoa que estende o
famigerado pedaço de papel. Olhos nos olhos. Uma história por trás daquele bico
sob o sol inclemente.
Na última semana escutei quase hipnotizada a história de uma
gentil moça levada a panfletar para garantir o aluguel e a comida na mesa, assim
como a preocupação com a filha pequena. Um relato tocante, que descreve com
pormenores as agruras da migração em território nacional. A sina que começa com
o mau casamento, continua com a não aceitação do divórcio pela família (ainda
existem comunidades tão tradicionais).
De dificuldade em dificuldade, a interrupção dos estudos, já
tardiamente iniciados. Distribuição de currículos sem resposta. Nada de um
emprego de verdade. A dor, física e emocional.
É, minha opinião sobre o panfleto é a mesma. Até porque não tenho
como dar o final que sonhei para esta – verdadeira – história. Não uso de papel
para recontá-la, tenho de ser coerente.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dura lex sed lex, dura lex sed latex

A casa não tinha teto solar, tinha telhado de vidro.
Irremediavelmente maculado, o senador goiano caiu na boca do povo. O
senador que se pautava pela conduta ilibada, pelo discurso correto e que não
tinha medo de se declarar de direita.
Os indícios de corrupção, inequívocos. Respingam também em
parte dos representantes de Goiás e até de São Paulo na Câmara Federal. Sugerem envolvimento do
governador goiano, figura querida, embora controversa.
Não questiono os fatos. Está tudo na mídia, à disposição de
todos.
Convido à reflexão desapaixonada.
Desta vez, o que sobra da oposição? Uma das figuras mais
fortes, agora bandeada para o ficha-suja, com possível envolvimento do
Executivo estadual, e sabe-se o que mais veremos.
Não tenho intenção de polemizar, política não é meu ponto
forte. Entretanto, concedo-me o direito de perguntar por que o senador execrado
é mais nocivo do que o (literal e infelizmente) imortal Sarney? Com sua sede de
poder e necessidade de comando vitalício? Renan Calheiros? (gosto das quatro
primeiras letras do sobrenome).
Setenta e sete por cento de aprovação. Não tenho uma palavra
contra a figura pública e presidente Dilma, já o seu séquito, é outra
história.
Onde está a oposição? Pelo momento, somente São Paulo e
Minas. Não faço apologia a nenhum corrupto e acredito em punição exemplar, mas
que possa então o café - com – leite nos assegurar alternância de poder, na
Câmara, no Senado e no Executivo. Ao destruirmos a oposição nos aproximamos
inexoravelmente do caminho para as ditaduras tão conhecidas da América-latrina.