quinta-feira, 28 de julho de 2011

Gente feliz e descomplicada

Gente feliz é assim.
Ao encerrar minhas atividades laborais nesta quinta-feira, tomei uma via pouco usual. Tinha sido um dia pouco comum. Enquanto dirigia, tráfego não muito intenso, escutava calmamente uma canção de Melody Gardot quando uma letra bem conhecida da música popular brasileira, literalmente em alto e bom som, fez uma curva de noventa graus em meus devaneios.
Que ninguém me pergunte “qual era a música”. Alguma coisa agradável, sem muito a ver com o boteco de onde ela eclodia. Não era música ao vivo, não. Alguns homens na calçada bebendo cerveja Skol. Desde que estivesse gelada, tudo estaria perfeito. Isso é que é happy hour.
Girei novamente minha atenção, agora para alguns amigos bem queridos, mas que só tomam vinhos de safras nobilíssimas em taças de cristal que não façam feio em qualquer recepção do Itamaraty.
E aqueles homens estavam comendo alguma coisa. Olhando com mais atenção, o farol já por abrir, vi mulheres também, várias pessoas em uma mesa na parte interna. Certamente não comiam foie gras (eu também não como, pelos princípios ecológicos e pelo paladar). Torresmo, batatinhas, bacon, frango frito? Não importa. Todo mundo alegre, sem pensar muito no chef, na qualidade superior do ingrediente, na acidez do azeite (haveria azeite de oliva por lá!?).
Farol verde, baixei o vidro, sorvi a música (perdão, Melody), ouvi algumas boas risadas de brinde e arranquei. Cheguei à casa, marido no trabalho (céus, por que não fui à academia?)...
Gente descomplicada vive melhor.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

UMA, DUAS OU TRÊS VIDAS?

É interessante como as coisas mudam.
Essa dinâmica da vida sempre me fascinou.
Um dia um professor me disse que não se pode aventar hipóteses para o passado. O que passou passou, e não adianta nada ficarmos imaginando como tudo teria sido se alguma coisa fosse mudada no decorrer dos acontecimentos.
É tudo verdade.
Mesmo assim, não posso precisar quantas vezes me flagrei pensando em como seria a vida se ao invés de colocar o cavalo na frente da rainha, trancasse o mesmo na torre e deixasse que lhe crescessem os cabelos.
Estórias à parte, devo confessar que se vivesse novamente a minha vida, faria tudo de novo. Talvez eu fizesse com mais leveza, talvez não sofresse tanto, mas que eu faria, eu faria! Não mudaria nada, mesmo porque muitas vezes me culpei por situações que não tive realmente culpa. Faria tudo de novo com muito mais segurança.
Ainda assim, me prendo ao jogo lúdico de trocar as peças no tabuleiro e fugir de barco com meu primeiro namoradinho, como um dia planejamos, numa noite cheia de estrelas de um verão alucinante.
Precisaria aí de três vidas, porque se eu tivesse uma segunda chance repetiria esta vida... e com muito menos culpa!!!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Putz Putz Putz Mall

Depois de uma longa data finalmente veio inspiração para a minha primeira postagem.
Eu não sei se o público feminino aqui é predominante, mas eu sei que não é absoluto, afinal de contas na maior parte do tempo venho até aqui para ler.De qualquer maneira acho que todo mundo terá alguma identificação com essa minha singela reflexão.
Eu conheço um sujeito que diz que não há nada melhor no mundo do que comprar no Walmart nos Estados Unidos.O comprador entra, pega o que quer, paga e vai embora.Em alguns casos existem até compras casadas que atendem ao cliente mediano, que não gosta de ter que pensar ou interagir para adquirir algo trivial como uma camiseta branca, uma cueca e um par de meias.
O citado indivíduo é um sujeito de pavio curto que não tolera vendedores de lojas em geral.
Eu acho que não é exatamente o meu caso. Já fui atendido por vendedores de roupas que me deram explicações e indicações bastante úteis,mas eram vendedores e lojas de uma época que parece ter ficado para trás.
Hoje é impossível entrar em uma loja de roupas que não esteja tocando música eletrônica em volume incômodo ou muito próximo disso, bem como não há vendedores ou vendedoras que ainda não tenham se apercebido de que o fato de saberem seu nome não irá quebrar o gelo e fazê-lo ficar à vontade para fazer suas compras.Antes de esbravejar,um último detalhe...eu sou aquilo que as pessoas chamam carinhosamente de ogro, tenho constituição física grande, estou gordo e mal tenho tempo para respirar, que dirá passar uma tarde num shopping comprando roupas.
Agora vou esbravejar.
Putezgrila será que não existe uma porcaria de loja que ao invés de dar um treinamentozinho de vendas mequetrefe ensine os vendedores à respeito de tecidos e roupas, mas também e principalmente à respeito de gente? Eu procuro uma loja para comprar roupas e não para fazer amigos.Talvez isso até agrade o público feminino ou gay, mas não a um prejuízo de churrascaria que nem eu.
Até em loja de terno toca o tal bate estaca e os vendedores e vendedoras trabalham como se estivessem numa rave celebrando com os amiguinhos e amiguinhas.
Rabugento?Eu não acho que estou pensando e me comportando como um velho chato...só estou com a sensação de que os fashionistas (essa é para você Rosenthal) e marqueteiros que tomaram o comando do negócio empurram goela abaixo um modelo atendimento que interfere negativamente na percepção e no discernimento do comprador e que ao contrário do que esperam me fazem comprar menos... eu não compro o que não entendo e quando eu entro nesses lugares não vejo a hora de sair....para não falar em um outro pequeno detalhe...a estatura da população brasileira aumentou e a modelagem das roupas encolheu...eu não tenho porte para comprar roupas na tradicional camisaria Varca que atende o gordo elegante, mas outro dia desses entrei numa loja que me mostrou uma camisa Extra Extra Grande que não cabia nem em um amigo meu que é o legítimo filet de borboleta.Isso derrubou minha tese de que preciso fazer dieta e exercícios...nem com isso eu vou caber...tá na hora de ir para Miami!!!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O livreiro

Há alguns dias tenho me surpreendido saudosista, mais do que o normal.
Faz alguns anos - quando ainda freqüentava os bancos da faculdade, adquiria os livros necessários, os recomendados e os nem tão imprescindíveis assim, na livraria Centro Médico. Havia, é claro, outras livrarias nas dependências da faculdade, e também podíamos comprar por telefone.
Os preços nem variavam tanto. O que me impelia a entrar sempre na mesma livraria era o proprietário, Sr. Manoel. Apesar da fama de elevar preços, garanto que “seu” Manoel nada tinha de mercenário. Barganhava conosco, aceitava livros quase inúteis como parte do pagamento, facilitava as condições e ainda era bom de papo. Meio filosófico, diria.
O tempo passou, anos voaram e retornei à faculdade, agora como funcionária pública. Seu Manoel já não habita em nosso mundo, e sua viúva herdou a livraria. Segue com a mesmíssima política, ganha os clientes com simpatia e recolhe, às escondidas, os animais do pátio, alimentando-os e abrigando-os em seu espaço.
Ocorre que reformas são mandatórias. Um novo prédio está em construção, e o antigo deve ceder lugar às improvisações. Desconheço a autoria de tão brilhante projeto que, dentre outras pérolas, destruiu o exíguo estacionamento. No entanto, a façanha mais marcante foi a tentativa (vã) de desabrigar a Flor e sua livraria. Flor é o nome da senhora que nos atende, a proprietária, que dispensa funcionários em razão de sua margem reduzidíssima de lucros.
Feito um abaixo-assinado, o sucesso foi assegurado. Flor continua onde está. Em memória de seu Manoel, uma pequena mas representativa vitória a todos.

domingo, 3 de julho de 2011

História da vida real - as férias de Narcisa

Poucos verbos expressam com tanta veemência seu significado como ‘viajar’. Quero dizer que isto implica em sair de órbita, curtir o diferente e o novo e, sim, enfrentar alguns contratempos.
Muito recentemente estive na Grã-Bretanha, e mais especificamente na Escócia. Não fui à procura do monstro do lago Ness, a Nessie (claro que o monstro é feminino), no entanto a encontrei.
Chama-se Narcisa, é bastante madura, ou deveria sê-lo, de nacionalidade vizinha à nossa e afeita a falsas intimidades. Saliento que já me senti solitária e insegura por diversas vezes, mas felizmente não sofro de transtorno de ansiedade generalizada. Narcisa sofre, e seria trágico se não fosse cômico.
Procurou com suas próprias mãos um país de língua inglesa sem o menor domínio. Revoltou-se porque os nativos não compreendiam seu idioma. No embarque para Edimburgo literalmente parou o trânsito, no momento em que foi detida com xampu e condicionador de cerca de 200 ml cada um em bagagem de mão. Aos berros, proclamava em sua língua natal que estava sendo afrontada. Pagou multa, trinta e cinco libras a menos. E embarcou os malditos frascos em seu devido lugar.
Alguns dias depois estávamos em Glasgow e a madame contratara a mesma empresa para trasladá-la até o aeroporto. Começou o enredo de novela mexicana, embora esta não fosse sua nacionalidade. Deu ordens a não mais poder ao motorista, eficiente senhor paquistanês. Sempre em seu idioma incompreensível para ele, mas não para mim. Invadiu o assento do motorista desconsiderando a mão inglesa. Sentou-se ao lado do motorista, mesmo diante de um assento disponível no banco de trás, para escândalo do condutor. Falava a não mais poder, até quando aquele senhor deu graças aos céus por ter tocado seu celular (na Escócia não é proibido usar Bluetooth à direção). É claro que a maluca imaginou que ele tivesse iniciado uma interessante conversa com ela. Não adiantou gesticular: acelerando bastante, em franco desespero, o dono do veículo nos deixou no aeroporto, aliviado.
Narcisa desceu do carro e não fechou a porta. Pragejou em alto e bom som porque diabos não estava em frente à entrada do aeroporto. Simplesmente porque era proibido parar ali. Parou várias pessoas na calçada para lhes perguntar onde era a entrada, embora estivesse diante das inúmeras placas indicativas. A princípio ignorou minha presença, eu, que estava ali a acudi-la, até descobrir que o check-in eletrônico era demais para suas habilidades. Aos gritos, sem qualquer exagero, exigia-me explicações. Ocorria que naquele momento eu estava empenhada em assegurar o meu embarque. Uma funcionária correu em seu socorro – ou ao meu – e, ao terminar, para surpresa geral, ganhou um abraço inconveniente (parece que funcionários de aeroporto não esperam por manifestações afetuosas).
Bem, a infeliz passou à minha frente e se encarregou de despachar as bagagens. Foi aí que aconteceu o inexplicável. De repente passou a entender inglês, e muito bem. Cena inimaginável, bradava, cancelado? Como, cancelado? Minha viagem é hoje! Não podem fazer isso comigo! Sapateava e não falava em inglês, naturalmente. Mais uma vez, interrompeu a fila (que mulher de parar o trânsito!). Ao descobrir que não iria mesmo embarcar porque o aeroporto de sua capital estava fechado devido à grande quantidade de cinzas emitidas pelo vulcão Puyehue (do país vizinho ao dela), chorava alto, bem alto. Os funcionários dos guichês ao lado expressavam desde incredulidade até raiva.
Recusava-se a deixar o guichê, mesmo encaminhada para o atendimento necessário às vítimas de cancelamento. Berrava que nunca mais voltaria àquele país. Tudo muito desorganizado, afinal, foi providenciada acomodação, refeições e garantia de decolagem no dia seguinte desde que o aeroporto de destino fosse reaberto. Recusando-se a entender, fiz-me de interprete, confesso que exausta de todo aquele circo. Ao receber o voucher, o show continuou.
‘Meu passaporte! Ficaram com meu passaporte’. Diga-se que o vernáculo em língua inglesa é bastante aproximado. Pode-se ter uma idéia do alvoroço entre os solícitos funcionários da companhia aérea do tal país algoz. Neste momento, sem qualquer piedade, eu, pessoa farta de tudo aquilo, coloquei de forma ímpia minha mão dentro da bolsa da bruxa e tomei a palavra, digamos, com elevação de alguns decibéis em relação à minha fala habitual: ‘seu passaporte está aqui! Aqui! Veja!’.
Pacientemente encaminhei a coisa ao hotel, em frente ao aeroporto. Como errar deve ser inumano, não prestei a mínima atenção ao lhe apontar o hotel Holiday Inn – a louca se hospedaria no Holiday Inn Express, atrás do primeiro. Corri para o portão de embarque e, após passar a bolsa pelos raios-X, dei-me conta, pela janela, de meu erro crasso.
Só espero que madame tenha sido detida, presa, encarcerada pelo escândalo que certamente fez ao descobrir o engano. Tudo culpa minha.
Narciso acha feio o que não é espelho.