segunda-feira, 19 de abril de 2010

COMO É DIFÍCIL MENTIR

Não, não é um chavão, nem nada parecido. O que eu quero dizer é... como é sofrido sustentar uma mentira.
Outro dia assistindo a um programa destes sensacionalistas, me deparei com aquela sempre bizarra cena de tentativa de reconciliação de casais separados. Sempre pensei que os pares em questão fossem artistas contratados, mas a julgar pelo sofrimento do cidadão, fiquei mesmo na dúvida.
Bom, o caso é que depois de um barraco romanesco, narrado em mi bemol maior por um barítono da ópera municipal, eles estavam lá: no meio de um cenário próprio, com uma platéia enorme - multiplicada por recursos digitais - e uma apresentadora do tipo burralda loirinha, tentando fazer as pazes. É claro que no caso de um insucesso na paz, seguranças estavam a postos nas coxias para conter uma eventual tentativa de assassinato entre os participantes. O circo estava montado!
Bom, circo montado, fiquei pensando em quanto devem ter oferecido ao cidadão, vestidinho de peça azul masculina do joguinho, para participar do espetáculo. A mulher, peça vermelha, não deve ter ganhado nada além de reconhecimento e 4 minutos de fama entre as vizinhas - 5 é muito nesse caso. Além é claro de um corte novo de cabelo com tintura "boreal", cor de bosta de vaca com disenteria.
Mas, voltando ao cara... o coitado do cara, que tinha jurado na sinuca que não queria ver a biscate nunca mais, que tinha honrado sua alma com promessas de cuspe e sangue pisado entre os amigos, que tinha saído com metade das piranhas do bairro sem camisinha para lavar a alma do convívio com a vagabunda... o cara... este sim foi pego de surpresa! E ofereceram um bom dinheiro pra ele! Dinheiro... O coitado desempregado, precisando angariar mais fundos do que a sinuca lhe dava para a cachacinha de todo dia... realmente precisando e muito!

De repente ele se vê frente a frente com uma equipe sensacionalista lhe oferecendo dinheiro, e mais dinheiro ainda se a reconciliação fosse obtida. E tudo isso em público!!!! E na frente de todos os seus amigos do pacto, da sinuca, do bar do Zé! Putzzzzzzzz...
ELE ACEITA!
E vai lá com aquele carão pra frente das câmeras. Nem o pó de arroz ajudou dessa vez. O coitado suava e fazia aquela cara de "puta que o pariu e agora?"... O choro era verdadeiro, mas era entre os dentes... as lágrimas caiam dizendo que não enquanto ele "emocionado" aceitava a mulher de volta dizendo que sim... e pensando secretamente o que faria com aquele presente de grego ao chegar em casa televisionado ao vivo e em cores.

Quantas vezes na vida a gente não chora pensando numa coisa completamente diferente daquela que todos pensam que você está pensando? QUANTAS VEZES!!!!, hein?
É... a vida sorri de forma diferente para cada um de nós... e... como é difícil mentir...

3 comentários:

  1. em tempos de imediatismos o negócio é tirar o problema da frente e para tanto nada é mais atual e eficiente do que a famosa técnica do "depois a gente vê como é que fica", que se aplica não somente à este post como também ao post nos quais você se culpa pelos seus prestadores de serviço...pode ter certeza que o sono deles não foi perdido por sua culpa...

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  2. É racional isso de decidir depois, principalmente porque a gente ganha tempo para pensar. O problema é que é muito difícil enfrentar o sim quando na verdade queremos desesperadamente dizer não.
    Essa é a questão... e quantas vezes a gente não identifica pessoas passando por isso, bem na frente do nosso nariz! É só prestar atenção.
    Isso quando não somos nós mesmos a enfrentar esse tipo de situação. A gente nem se dá conta do quanto de sacrifício a gente faz em nome do bem estar geral ou simplesmente para não passar uma idéia de que somos "ranzinzas", de difícil convívio social.
    Estou cada vez mais convencida de que assumir o nosso lado anti-social nos deixa mais satisfeitos. Não sei quanto aos outros, que nos rodeiam, mas nós com certeza seremos mais serenos, calmos e felizes! Acho eu...

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  3. Certa feita eu ouvi de um sujeito filho de pai espanhol e mãe paraguaia os seguintes dizeres:
    Há 5 "nãos" que gente de fala hsipânica não sabe dizer.
    - Não sei
    - Não posso
    - Não faço
    - Não quero
    - Não conheço

    Ele complementava dizendo..não tente colocar isso à prova.O desgraçado tinha razão.Tempos depois fiquei sabendo que ele mesmo também era vigarista...pelo menos não fui vítima do golpe...
    Gente de fala Luso-tupiniquim é bem parecida com os hermanos...para nosso completo desespero.

    De qualquer maneira expôr o nosso lado bicho do mato não ajuda a ter 1 milhão de amigos mas deixa a gente com os ombros mais relaxados...o sono mais leve e a vida menos molestada por infortúnios...para algumas coisas a gente consegue mais respeito sendo temido do que sendo amado...ô mundinho chato.

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