domingo, 22 de março de 2020

QUARENTENA... REFLEXÕES

Em tempos de coronavírus e de quarentena involuntária, há tanto tempo sobrando que ficamos perdidos dentro de nosso próprio espaço. Literalmente.
O fato é que sempre gostei de páginas em branco. A sensação de liberdade é indescritível, mesmo que dentro de um confinamento físico. O pensamento vagueia com mais afinco, e a imaginação mostra toda a capacidade que tem, de não ser finita.
Nunca se leu tanto como hoje, no confinamento. 
Nunca se conversou tanto como hoje, no confinamento.
Nunca se pensou tanto, como hoje no confinamento.
Percebemos até que somos capazes de abrir nossos horizontes para as mudanças de vírgulas... Não é incrível!


MEL - PORQUE É PRECISO PUBLICAR...

Mel era seu nome.
Um garoto doce como o demônio. Um gentleman.
A primeira vez que nos vimos, ele foi muito educado, como há muito tempo eu não percebia uma pessoa assim. Especial.
Mel não era de falar muito. Na grande maioria das vezes apenas escutava as conversas e se ria muito das coisas engraçadas que minha família soltava hemorragicamente.
Mas se ria de uma maneira engraçada, sacudindo o corpo todo, com sua cabeça balançando no sentido vertical, como aqueles cachorrinhos de mentira que os taxistas colocam no carro junto ao painel, com a cabeça solta que se movimenta ao balançar do veículo. Ele ria assim.
Às vezes também se ria descompassado, fora de hora, antes do desfecho da situação, assim como que para agradar... achávamos estranho, mas atribuíamos à grande pressão que era enfrentar uma família como a nossa, ácida e sarcástica. E ele tão bonzinho... fingíamos que a risada vinha na hora certa e ríamos também com sorrisos amarelos para acompanhar. Afinal de contas não é interessante deixar ninguém sem graça na nossa própria casa, ainda por cima um rapaz tão direito, que só quer ficar junto da gente, assim como a mariposa de ontem em cima da TV. Deixamos ela lá e respeitamos a sua vontade e a sua companhia, muito embora ela tenha perdido o seguimento da novela.
Bom, ele ria... e ria com muito mais sacode se no meio das frases a gente salpicasse referências picantes. Para ele a palavra sexo era extremamente gozada - se me permitem o trocadilho. A coisa podia não ter graça nenhuma, mas se tivesse sacanagem ele ria de um modo romanesco, e se sacudia até lhe faltar o ar. Aí vocês vão me desculpar, mas não dava pra acompanhar. Apenas ficávamos olhando e esperando a crise semi-convulsiva terminar. Num estado pós-comicial nem dava para conversar com Mel, de tão empolgado que ficava com as palavras cú, sexo, trepada, etc. Era quase tão bom para ele quanto comer chocolate.
Mel dizia que queria ser parte de nossa família. Se agarrou na possibilidade de então convencer a minha irmã de que ele era um porra de um homem bacana.
Não era. Mas isso vou explicando conforme evolução textual.
Como falei anteriormente, Mel fazia de tudo para se entrosar na família. Muito embora não conseguíssemos digerir Mel, ele acabou convencendo a minha irmã e minha mãe e, com o tempo, até eu o tolerava.
É certo que não tínhamos muito assunto com Mel. A conversa não fluía. Ele não era conhecedor exímio e nem superficial de nada. Nunca tinha assistido a um balé, vejam só. Não conhecia música nenhuma, só as da moda, e não era inteirado de absolutamente nada. Não tínhamos nada em comum. Mas quando ele estava presente era só soltar um "buceta" sem contexto mesmo, que Mel já se sentia em casa. Relaxava e ria como ninguém, com fáscies debilóide que lhe era peculiar. Mas atribuíamos tudo isso ao seu estilo simplório, apesar de ter sido educado com pompa e circunstância, nas melhores escolas.
Como pode um cara que teve condições, chegar à sua meia idade na mais completa ignorância? Para mim isto era teoricamente impossível, alguma coisa o cara tinha que ter aprendido... mas quando conheci Mel, vi que o tolo acha o seu caminho entre as florestas desertas do seu cérebro desprovido de neurônios.
E Mel foi se infiltrando na nossa família. Eu, minha irmã e meu pai sempre nos referíamos a ele em particular como o Mel (de "Melda"). Mas acabamos tolerando o sujeito. Quando nos reuníamos em família sentávamos longe dele para não ter que travar nenhuma conversação ignorante. Ele não sabia nada de nada. E o pior é que Mel tinha dinheiro, gostava de se tratar bem, frequentava bons restaurantes, ia ao cinema, teatro, mas não entendia nem as comidas e nem o contexto da sua própria vida. Pois é... Deus dá asas para cobra. E a cobra era dotada de um analfabetismo funcional sem precedentes.
Os meses se passaram e Mel foi conquistando a confiança de todos. Que fique bem claro que confiança não tem nada a ver com respeito.
Quando fez 1 ano de namoro, sempre tratando muito bem a minha irmã, ele veio com uma conversa de casamento.
Mel já fora casado. Tinha uma ex-mulher que metera-lha um belo par de chifres. Saía para fazer jogging completamente maquiada e de longo, comportamento que repetiu exaustivamente até Mel perceber que alguma coisa estava errada... afinal de contas não se corre de salto alto. Ele demorou uns meses, mas flagrou. E toda a sua raiva o fazia bufar, assim como meu cachorro faz quando está feliz...
Separaram. Da pior forma, com um acerto de pensão bilhardária para a ex-mulher, a dos cornos, e os dois filhos. O pior é que era uma garota de boa família e ninguém na comunidade entendeu o por quê de tanta traição. Foi estranho. E mesmo após a pensão fantástica e a traição e o fato de os dois pombinhos só se falarem através de advogados, Mel eternamente continuou se referindo a sua ex-mulher como a "mamãe". Estranho né? Porque se fosse comigo eu ia falar, aquela mulher, ou chamá-la pelo nome, ou me referir a ela, para os filhos, como a vagaranha da sua mãe! E pior, após uns 6 meses de toda a traição, a mulher já estava casada com o amante, quando Mel tentou então, desesperadamente, voltar para ela, para a mamãe. Cada um tem os seus motivos... não vou comentar, mas que foi estranho foi. A mamãe.
O fato é que Mel tentou casar com a minha irmã. Foram ver o rabino, avisaram para a família, comemoramos com alegria por cerca de 2 semanas e aí... Mel esqueceu! Não falou mais no assunto. É certo que minha irmã nunca escondeu de Mel que gostaria de ter sua própria família... e Mel sempre foi entusiasta do casamento, de refazer sua vida, ou pelo menos era isso que ele alardeava.
Alguns meses mais se passaram... Mel até tentou me apresentar para dois de seus amigos solteiros. Um com problemas mentais e o outro melhor nem comentar. Bom, o outro- não me aguento - era um véi sem vergonha, que praticamente babava, e com 50 e poucos anos se comportava como um adolescente com problemas na estrutura elétrica da sua rede de neurônios. Existe aquele ditado do diga-me com quem andas e blá blá blá... relevamos. Não devíamos ter ignorado.
Quando fizeram um ano e meio de namoro, Mel se lembrou de que queria casar com minha irmã. De novo, reuniu toda nossa família, fez o pedido para meu pai e comemoramos com a maior alegria. Apesar de toda a sua deficiência mental, Mel tratava bem a minha irmã que de certa forma orientava o relacionamento da forma mais saudável possível. Ele parecia semi-normal. E ela estava feliz.
Concordamos todos que seria bacana para ambos.
Marcaram com o rabino.
O rabino que não é idiota, foi logo falando que o tempo dele era precioso e se fosse alarme falso como o de 6 meses atrás, ele ia ficar muito puto da vida. Mel jurou que desta vez era muito sério.
Entraram com a documentação e marcaram a data.
E em algumas semanas Mel surtou.
Inicialmente Mel nos contou que estava enfrentando problemas no trabalho, que a vida estava difícil e que ele estava muito deprimido...
Meu pai, preocupado com o futuro genro, chamou-o para uma conversa, deixando bem claro que agora éramos da mesma família, e que estávamos juntos nessa jornada, para o que der e vier.
Mel não tinha nenhum pudor em dispor do tempo das pessoas. Ouviu meu pai, ligou para mim, pedindo referências de psiquiatras para cuidar de sua loucura... e um belo dia foi dormir na casa da sua mamãe. Da mãe dele mesmo.
E sumiu.
Minha irmã ficou desesperada pois gostava de Mel e queria muito lhe ajudar.
Mas Mel não dava notícias. Sua mamãe também não ajudava na comunicação nem sua irmã, nem o resto da porra da sua família. Minha irmã até perguntou se ele já havia tido crises semelhantes anteriormente, mas a família negava de pé junto que não, que era a primeiríssima vez.
Até que dois dias após sua internação na mamãe, Mel inicia a sua exclusão de pessoas no seu Facebook, iniciando advinha por quem? Isso!! Pela minha irmã!! A sua noiva!!
Véi, você não precisa casar se não quiser, mas quando você faz 50 anos e pede alguém em casamento, o mínimo que se espera quando você desiste, é que você seja HOMEM e tenha atitudes adultas. Excluir do Facebook véi??? Isso é adulto véi??? Tenha santa paciência!
Quado ficamos sabendo disso, eu não aguentei e liguei pro véi doido. Afinal de contas ele havia me ligado para pegar referências de psiquiatras e eu me senti completamente a vontade para ligar de volta e ver se a maluquice havia apresentado alguma melhora.
Então liguei. Conversa vai e conversa vem, ele com a voz meio enrolada me diz que está melhor, tomando remédios fortíssimos. E quando eu falei que ele havia excluído a sua noiva do Facebook ele me disse que fora um erro do sistema, completamente acidental. Difícil de acreditar, mas fui levando. Lá pelas tantas, perguntei se ele havia falado com a minha irmã que estava preocupadíssima com a sua doença... e ele me responde que não falava com ela há 2 dias.
Fiquei surpresa e perguntei se estava tudo bem entre eles, se o casamento estava de pé, e ele me respondeu simplesmente que "sabe o que é... é que eu dei uma 'piradinha'... e não sei se eu quero mais casar".
Véi, ele falou isso pra mim! Antes de falar pra ela!!
Olha eu sou calma até certo ponto, mas não gosto de putaria com a minha família.
No que eu ouvi que ele deu uma "PIRADINHA", imediatamente eu respondi: piradinha o seu cú! Você tem 60 segundos desligando o telefone de mim, para ligar pra minha irmã e conversar com ela, seu piradinho de merda.
Aí ele ligou e terminou com ela POR TELEFONE!! Um senhorzinho de 50 anos, terminando um noivado por telefone!
Aí ligou pra mim e disse que meu telefonema foi muito ruim para ele e que ele se sentiu pressionado a terminar e que não queria terminar... uma logorréia sem fim. Aí tive que novamente dizer ao piradinho de merda que não mandei ele terminar, mas sim conversar. No que ele liga de novo pra minha irmã e desdiz tudo. E mais a noite liga de novo e reafirma que quer mesmo terminar.
Agora eu pergunto: dá pra respeitar um porra desses?
Descobrimos alguns meses depois que esse Melda sempre foi um Melda. Que tem crises depressivas com frequência, que trabalha administrando lojinhas que o pai montou para ele, que nunca conseguiu nada por esforço próprio, que é um eterno dependente do pai rico que inclusive paga a tal da pensão trilhardária para a "mamãe", sua ex-mulher, aquela dos cornos.
A ex-mulher também utiliza os seus trabalhos de manobrista e caroneiro fazendo-o conduzir seus filhos quer seja dia dele de ficar com os meninos quer não.
Diga-se de passagem que mamãe casou com o amante, o qual é casada até hoje, e tem 2 filhos pequenos com ele, além de ter educado com excelência os dois filhos de Mel que são ótimos alunos, inteligentes, educados e cultos, em nada lembrando o comportamento rotineiro de Mel nem a sua falta de bagagem cultural.
Chegamos a conclusão de que mamãe deve ser uma ótima pessoa.
E Mel continua sumido.
Os poucos pertences que minha irmã havia deixado em sua casa ele devolveu amarfanhados, em péssimas condições. Parece que com raiva, Mel amassou tudo e devolveu na portaria do prédio de nossa outra irmã. Agora eu pergunto: raiva de que? Com que direito Mel sente raiva?
Mel ainda tentou um recomeço. Queria recomeçar "beeemmm devagarinho". Minha irmã, que estava com a alma em pedaços até concordou... aí Mel ligou para ela por 3 dias seguidos e nunca mais apareceu. Deve fazer parte do recomeço "beeemmmm devagarinho" dele.
Mel é doido. E escrevo este texto para lembrar do quanto estamos sujeitos a conhecer e confiar em gente maluca.
Para nos protegermos fizemos um voodoo de Mel. Está na casa da minha outra irmã, no hall de entrada. E sempre que vamos lá damos mais uma apertadinha na corda que Mel usa em torno do pescoço.
Só para garantir.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Brometo de Ipratrópio

Existe um complô da comunidade farmacêutica pra complicar a vida dos médicos. Principalmente dos estudantes de medicina. Esse complô se esconde entre os nomes científicos e os nomes comerciais dos medicamentos. (fora o rolo entre medicamento genérico e nome genérico de medicamento. Isso fica pra outro dia)
 Certeza que em toda indústria farmacêutica existe uma seção única e exclusiva pra escolher os nomes dos medicamentos causando o maior tipo de confusão possível pra quem vai prescrevê-los. Isso é pensado, eu tenho certeza, é feito pra gerar confusão e vender mais remédios. imagino meia dúzia de tios do pavê (É pavê ou pacumê) de jaleco criando nomes e rindo da nossa cara.
Preste bem atenção, nenhum remédio tem um nome simples como batata, ou torresmo. É etexilato de dabigratana, cetorolaco de trometamina, ácido azoledrônico que depois levam nomes comerciais diferentes dependendo do laboratório que criou o medicamento. Aí viram  toragesic, aclasta, pradaxa.  (tente descobrir qual é qual).
Decoreba pura cara, não tem lógica, não faz sentido.
Tem aqueles em que os nomes são parecidos: Cefalotina, cefazolina, cefepima, cefalexina, ceftazidima, ceftaxima, todos antibióticos, alguns com indicações parecidas, outros completamente diferentes. Nem precisa dizer que os nomes comerciais não tem nada a ver com os científicos. keflin, kefazol, maxcef, keflex, fortaz, claforan, esses na ordem.
E os impronunciáveis então? SECUQUINUMABE. Imagine isso numa letra de médico! E quando o paciente passa em consulta e você pergunta o que ele está tomando? sequi... seca... secuniqui... aaah Dr. é um branquinho da caixa com uma faixa vermelha.
 Os pacientes já não conseguem pronunciar densitometria, imagine secuquinumabe, oxaminiquini, rivaroxabana.
Saudades da época do chá de erva cidreira...

terça-feira, 23 de outubro de 2018

SAUDADE

De repente, não mais que de repente: Pá. 
bate aquela saudade.
Saudade, nostalgia, banzo, recordações de tempos que não voltam mais.
A vida com suas vindas e idas tem dessas. Acorda a gente às 4 da manhã  com aquela sensação de vazio no peito com vontade de ligar pra matar a saudade.
Aí eu ligo no mesmo horário e...
não, claro que não. Meu grau de demência não permite que eu pegue um telefone às quatro da manhã pra ligar pra alguém com quem eu não falo há mais de quatro anos. Imagine a conversa. Primeiro um telefone te acordando de madrugada quado você não esta de plantão sempre te faz pensar em coisa ruim. 
-ALÔ, ALÔ.
-Oi minha querida, há quanto tempo! Sou eu, seu amigo!
-CARALHO E QUEM MORREU?? 
-Ninguém, so liguei porque acordei com saudades!
Ótima maneira de estremecer uma amizade. 
Se bem que conhecendo minha querida "anastácia" era bem capaz da conversa ser outra! Passado o susto inicial, ela riria, responderia com aquela voz de sono de sempre e conversaríamos sobre os velhos tempos.
Verdadeiras amizades são atemporais, isso inclui fusos horários, clima, sono, etc. Começam antes que se perceba, e duram por toda uma vida. quando você liga vinte anos depois, ela continua fresca como um ramo de miosótis. (tem um easter egg aqui)
Porém o semancol às vezes nos faz ter uma vida mais chata do que merecemos e ao invés de ligar às quatro da matina pra minha amiga "anastácia", vim parar neste recanto.
Que saudades desse blog!!! Que pena que você não escreve mais nele! Adorei recordar seu humor inglês! Seu estilo de escrita continua fantástico, você deveria escrever um livro!
Bom, enquanto não nos falamos vou matando a saudade por aqui. quem sabe você se anima e volta a nos brindar com suas mal tecladas linhas, rsrsrsrs (como se diz hoje risos em internetês).

domingo, 5 de julho de 2015

REFLEXÕES - POR BENI ROSENTHAL


Oi Galera,




Como estréia neste blog inicio, como calouro, com algumas idéias ditadas pelo(s) meu(s) neurônio(s), como segue.
Inicialmente eram trevas. Depois, um Espírito Superior, à gente pelo menos, resolveu criar tudo. 
Dentro deste tudo, criou o homem e depois, para sua companheira, a mulher. Assim dizem e acham muitos. Dizem que a mulher, sempre querendo mandar, mandou o companheiro provar da árvore da sabedoria, subordinada a uma certa cobra. O Espírito ficou muito chateado com estes dois e os enviou ao trabalho para os sustentos correspondentes, determinando que o homem teria o livre arbítrio e a mulher, os serviços domésticos. De posse deste livre arbítrio, o homem passou a realizar incríveis façanhas. Ao mesmo tempo que descobria coisas boas, o fogo por exemplo. Destas coisas boas e com a multiplicação de gente, as usou para fins maldosos, guerras por exemplo. O Espírito não interveio, aliás, creio que jamais intervirá, pelo fato de que a concessão do livre arbítrio tem precedência.
Acho que, diferentemente do pensamento de Einstein, incontestavelmente o mais sábio dos humanos, o Espirito realmente joga dados. Por exemplo, a reprodução ocorre quando uma semente encontra um óvulo e é ao acaso que nasce um homem, uma mulher, um gay, um trans, etc...
Até o grande Einstein não pode ser perfeito (vide a afirmação: "não joga dados"), lembrando que por ocasião do duo de violino, que Einstein aprendeu sozinho, com o grande Arthur Rubinstein, este indagou se o mesmo não sabia contar: "Olha, é fácil, 1, 2, 3, 4". Ora, o Espírito, quando resolveu criar tudo isso que está aí, também não deve haver-se esmerado muito. Antes era o caos, e agora o que é?
O livre arbítrio criou guerras, além de alguns ou melhor, muitos políticos que estão destruindo tudo que o Espírito criou. Mas o mesmo continua sempre na mesma posição, pois o livre arbítrio deve ter precedência. 
Espero não haver levantado confusões, mas sim fornecer subsídios (com som de dois "s" depois de consoante, diferentemente do que, entre outros erros, pronunciam certos políticos analfabetos, sem fazer alusão, também, à carrada de idiotas e imbecis que superpovoam este planeta). Fornecer subsídios à galera, para que cumpram os respectivos "livre arbítrio" e pensem cada vez mais. Acho que devem utilizar o "livre arbítrio" para providenciar o fator justiça ora inexistente.

Carinhosamente,

Beni.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

A HORA

A hora que ultrapassa as horas não conta segundos.
Não consulta o tempo.
Não lembra dos fatos.
Anda em silêncio, nunca corre.
Nunca corre...
Mostra esquecida.
Perdida entre tantas convicções.
Que de forma infinita.
Só... passou.

domingo, 1 de março de 2015

UM DIA DE FÚRIA E... HATIKVA

Semana passada eu tive um dia de fúria. 
Sabe quando você contrata um serviço e combina com as pessoas um determinado horário e estas pessoas não só não aparecem, como não se dão ao trabalho de avisar que não virão.
Enquanto isso você preparou toda a sua casa para realizar o pequeno serviço encomendado, contratou uma pessoa pagando hora extra para que ela supervisionasse o serviço e por fim, ficou sem almoçar porque justamente na hora do almoço você ficou de passar em casa para conversar com a turma que havia marcado de fazer o pequeno serviço e simplesmente não apareceu.
Então o panorama era este: eu com fome, puta da vida pela falta de consideração, e soltando fogo pelas ventas porque além de tudo isso, a turma dos furões não atendia o telefone.
Pois é... estava inconsolável pela casa quando me sentei em uma cadeira da minha sala de jantar que quase não uso.
Fiquei um tempo calada, observando minha sala quando meu olho dá de cara com um buraco na parede. E olha que este buraco, embaixo da escada já devia estar lá há muito tempo. Um buraco onde deveria ter havido uma tomada, que me lembro bem, foi deslocada uns centímetros para o lado. E finalmente a pessoa que deslocou a fiação não se deu ao trabalho de colocar um espelho cego de tomada para tampar o buraco.
Eu, que na minha casa sou organizada ao extremo, fiquei louca. Já estava tudo dando errado, só me faltava mesmo um buraco na parede!
A minha sorte é que encontrei o seu Jorge, o encanador que estava prestando um serviço para a minha vizinha. Um homem simples, simpático, afro-descendente, muito forte, de uns 2 metros de altura... Ele, muito solícito, logo veio, trouxe o tal do espelho cego que teve de ser recortado para caber no espaço do buraco junto aos degraus da minha escada. Fiquei eternamente agradecida ao seu Jorge por ter feito pelo menos ums coisa no meu dia ter dado certo.
Ao término do serviço, como ele se recusou a fazer qualquer tipo de cobrança, dei-lhe dinheiro para um café e ele então iniciou uma conversa paralela, dizendo assim: "doutora, eu sei que a senhora é judia... e eu trabalhei há 12 anos para um senhor judeu que eu adorava... ele sempre vinha cantando uma música que eu nunca mais esqueci... fico até emocionado quando eu canto esta música, mas nunca soube o nome dela. Será que a senhora conhece, pra me dizer que música é essa? Peraí que vou cantar um trecho para a senhora". 
E então ele começou: "Kol od balevav penima/ Nefesh Yehudi homiya..."
Assim de um jeito meio truncado mas acertando grande parte da letra e com uma voz maravilhosa.
Identifiquei imediatamente a música para seu Jorge, e prometi gravá-la para ele num pendrive entregando também a letra.
Agora me fala, quando tudo vai mal no seu dia e o encanador, um homem humilde, de 2 metros de altura aparece cantando Hatikva, "a esperança", isso não pode ser um sinal? Hein, hein?

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

COMO DESBLOQUEAR O SEU CARTÃO PARA VIAJAR SOSSEGADO

A saga do cartão de crédito! Capítulo 2.
Por causa de uma nova viagem em minha vida, tive novamente de ligar para desbloquear meus cartões de crédito para uso no exterior. A minha última experiência com este tipo de atividade ficou registrada em http://depoiseagora.blogspot.com.br/2014/07/arrumacoes-pre-viagem.html e para falar a verdade não foi muito bem sucedida.
Só que desta vez vou a um lugar conhecido, que não dá nenhuma margem a interpretações errôneas... então liguei lá.
Iniciei com o meu cartão super hiper, tarja preta, international e o caramba. 
Depois de alguns toques, digito o número de meu cartão guiada por uma mensagem eletrônica... mais novo toques, e finalmente me atende uma moça com um sotaque - sem sombra de dúvida - pertencente ao nordeste de nosso país, que por fim diz: "AlÔ". Sim, com ênfase no ô por ser lá do nordeste. 
Bom, a primeira coisa que me passou na cabeça foi que eu liguei errado. Sabe como é, esses números de sac de cartão de crédito geralmente te direcionam para centros de atendimento, muitos deles localizados em outros países como na Índia por exemplo. Fiquei pensando na hipótese quase sobrenatural de eu ter ligado para uma retirante ruralista em Mumbai... desliguei.
Olhei e memorizei número por número do sac e tentei novamente. Tocou uma vezes, digitei tudo de novo o número de meu cartão, tocou mais um pouquinho e por fim atenderam. A mesma voz: "alÔ!".
Resolvi arriscar. Perguntei para onde eu havia ligado e ela: "Dainnê".
Fiquei um pouco em silêncio como sempre faço quando estou tensa, e pensei que se não fosse pegadinha talvez eu estivesse mesmo ligando certo.
Impaciente frente ao meu silêncio a mocinha finalmente falou: "como posso lhe atendê?"
Então resolvi jogar tudo, vida ou morte, e arrisquei no procedimento: "estou ligando porque vou viajar e gostaria de liberar o meu cartão para compras em sites no exterior e para a minha viagem. Como só vou deixar o país em março, você pode fazer este desbloqueio a partir de amanhã, pois tenho que reservar hotéis e passeios de meu computador aqui no Brasil."
Complexo né?
Pois bem, a moça pensou um pouco e perguntou: "que cartão?".
Estupefata falei: "esse mesmo que acabei de digitar ué".
"Ahhh tá." Então comecei a ouvir barulhos intensos de digitações febris em um teclado de computador. Ficou assim por uns minutos, até ela dizer: "olhe minha preta, num vai dá pra fazê isso não... é muito tempo. Você vai tê de ligá di novo no final do mês."
Falei: "faz o seguinte: libera só no período da viagem para o uso no exterior". 
Mais um tempo de digitação e ela "tá feito... mais alguma coisa?".
E eu "agora por favor libere apenas para sites de compras no exterior, a partir de hoje por gentileza".
E ela "que saiti?".
Respirei fundo 5 vezes e respondi "TODOS!" e recobrando meu controle interno "todos por favor".
"Um momentinhô".
Mais barulho de teclado. Muito barulho de teclado. Infinito barulho de teclado, até que eu ouço um "ô Allison, venha cá meu rei! Me ajude aqui com esta solicitação".
Mais barulho de teclado... por uns 5 minutos. Achei melhor não interromper com questionamentos.
Até que finalmente: "prontinho minha nêga!"... 
"Mais alguma coisa?".
Pelo bem da humanidade agradeci e desliguei.
Vamos ver se vai funcionar!

DA SÉRIE: SOBRE NOSSAS PROFISSÕES - Texto escrito por Luna, colaboradora deste blog

Depois de uma entressafra prolongada, divido neste espaço minha experiência com pérolas. Não aquelas preciosidades encontradas nas conchas, ofertadas pelo mar e que decoram com tanta elegância nossos colos. Trata-se de pérolas oferecidas durante anos de labuta, e que muito enfeiam nossos pensamentos. Sendo médica, não poucas vezes tento reprimir o riso ou um mau juízo. Vinte anos se vão daquele dia em que colei grau. E é baseada nisso que concluo que humildade cai bem, muito bem. Se eu não sei, não discuto. E ponto final. Não é anti-democrático, é meritocrático mesmo, sem arrogância. Sempre gostei muito de estudar tromboembolismo venoso. Não há grandes segredos ou mistérios, no entanto me fascina a possibilidade de um diagnóstico que vá além da manifestação que motiva o doente ao meu consultório. Trombofilias, colagenoses, neoplasias e pós-operatórios. Mas doutora, eu usei “Glexane” por dez dias... Às vezes não é possível convencer a pessoa que o nome comercial original do medicamento enoxaparina é Clexane. Trata-se de convencimento mesmo, já que esclarecer é tão difícil, ainda pior para os clientes de carteirinha do Dr. Google. Não que esteja escrito “Glexane” em alguma página localizada pelo Google... E quanto às tromboses, não vou me ater ao clichê que “vai ter que cortar a minha perna?”. Não, nada disso. Simplesmente relatarei, para adicionar à coletânea de pérolas, algumas coisas que fui obrigada a engolir (mas não a digerir!). Tenho uma trombose na perna esquerda. E a minha á venenosa. Que diabos é isso? Foi acometido por uma trombose venosa depois de uma picada de cobra!? Ou seria de um escorpião? Nada disso, era espontânea mesmo. Estou tratando uma trombose muito complexa. É do mais alto grau. Terceiro grau. Trombose ou queimadura, Deus do céu? Ou seria algum tipo de contato imediato!? Minha irmã, que é ginecologista, certa vez foi tentar investigar a morte súbita e inesperada da mãe de uma paciente. Recebeu como resposta “rasgou o véu da veia artéria, ela foi operada, mas não resistiu”. Entendo. Poetizar a morte é uma forma de sublimação. Só não entendi se se tratava de um aneurisma roto da aorta, ou mesmo cerebral, ou ainda uma dissecção da aorta. Até hoje ficamos na mesma. E o Pyloripac? Depois de muita insistência, minha irmã estava quase acreditando na paciente, cuja infecção urinária se manifestou após o início desta medicação, acrescida de um prurido vulvar constante. De nada adiantou sugerir à dita paciente que uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Entre parêntesis, será que é por isso que o nosso querido ex-presidente nunca soube – e nem vai saber - de nada? Do nervo asiático quase me abstive de comentar, mas por aqui ele vem quase sempre acompanhado da “astrosi”. Gostaria de perguntar a um Ortopedista onde fica o nervo asiático, mas talvez seja melhor recorrer a um Geógrafo. Muito bem, sempre o associei à Rússia, devido ao território abrangido. Mais vasta que a Rússia não há, porém, a um melhor juízo, penso que não. O território do nervo não é circunferencial. Seria possível planificar o globo terrestre? De volta à cirurgia vascular, quero esclarecer que varizes são causa de divórcio. Uma paciente me explicou, há anos, que se separou devido à presença e à recidiva das malditas. Dieta no pós-operatório de varizes. Para os incautos, esclareço: em algumas das regiões de nossa pátria amada, dieta não quer dizer dieta como restrição alimentar. Significa uma série de restrições (sim, brasileiro a-d-o-r-a perguntar o que ele não pode!) associadas a uma doença ou recuperação de cirurgia. Úlcera de estase venosa é erisipela e ponto final. Celulite é um problema terrível de “má“ circulação (em tempo: não se trata de celulite como inflamação do tecido subcutâneo, e sim daqueles famigerados furinhos). Então estria deve ser também, sabe-se lá... E, para concluir – por hoje - uma singela homenagem aos primeiros anos de residência: a minha vesícula foi retirada a laser. Atire a primeira pedra o colega que nunca escutou essa.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

PÉROLAS

Há alguns anos coleciono pérolas inerentes ao meu ofício.
Atendo muitas pessoas em locais públicos patrocinados pelo governo, coisa que fiz durante toda a minha vida e continuarei fazendo. Acho que é o certo, mesclar o atendimento privado e o público na intenção de abraçar e ajudar a todos os que precisam.
Não é nenhum tipo de hipocrisia isso porque sinceramente eu acho que, depois de estudar por toda a vida em instituições públicas, o mínimo que posso fazer para retribuir é continuar atendendo a quem precisa e não pode pagar. Afinal, a saúde pública me estendeu a mão quando eu estava aprendendo e agora eu estendo a mão de volta em reverência ao que me foi concedido.
Tá! Muito bonito isso, que é tudo verdade, mas o que eu queria dizer aqui é: como as pessoas falam besteira!
Cara, em todas as esferas da minha vida profissional eu ouço besteiras! 
Como se não bastasse ouvir besteira fora do trabalho.

E eu sou ortopedista. ORTOPEDISTA!
Então não adianta marcar uma consulta com um ortopedista, sentar na frente dele e, quando perguntado o motivo que o trouxe ali aos 80 anos de idade, falar: olha, ontem eu estava conversando com o atendente do Wallmart e ele me disse que eu estava com olheiras...
Pausa. Continuo olhando com a esperança de uma patologia ortopédica.
Passam-se cerca de 40 segundos que para mim pareceu uma eternidade. 
Continuo fitando o paciente, que após mais um tempo me olhando me pergunta: eu tô??!!
E eu: tá o que?
E ele: com olheira???

Vou fazer aqui uma pausa para reflexão...

Véi, o que você acha que eu respondi?!
Vou contar. Com toda a calma do mundo, falei: eu não sei. Eu sou ortopedista. Nunca vi o senhor... mas sinceramente eu acho que o senhor já tem essa cara faz tempo.

Mais uma pausa. Ele ficou me olhando, pensando se aquilo era sério ou era sarcasmo. Eu também estava na dúvida. Até que ele deu um sorriso e falou: é... acho que sim doutora... então quero falar pra senhora do meu problema aqui no pé.
E eu: qual pé?
E ele, me apontando enfaticamente o lado direito: este aqui, doutora, o pé esquerdo!


MENTIRAS

O ser humano possui duas características intrínsecas. Sine qua non!
Uma delas é... mentir.
A outra: acreditar.

Mente-se. Para tudo.
E acredita-se sem ressalvas.
Por exemplo, hoje na hora do café. 
Pedi um café com leite depois do almoço, como sempre faço.
Me serviram.
Imediatamente recorri à cestinha onde estavam os adoçantes. Peguei 1 pacotinho onde estava escrito que toda a quantidade contida naquele sachezinho correspondia ao doce de 5 g de açúcar purinho.
Bom, coloquei 1 pacotinho e ingeri um grande gole de café que mais amargo impossível.
Graças à mentira contida num sachê de adoçante eu quase vomitei o café que tomo todos os dias no mesmo restaurante, que por sua vez fica ao lado do meu trabalho. E eu conheço todo mundo lá. E vocês sabem que o povo que frequenta um lugar nunca esquece quando um dos clientes esguicha com grande força de pressão o líquido contido dentro de sua boca. Ainda mais se for café quente.
Então desgraçados de mentirosos de merda todos os etiquetadores de sachezinho de adoçante!
Despejei quase todos os pacotinhos de adoçante no meu singelo cafezinho para tentar melhorar o que já estava taxado de amargo pungente. 
Foi puxado isso.
Saudades de quando tudo era aspartame. Podia até fazer mal, mas adoçava. 
E ainda tinha a ameaça de causar Alzheimer com longos prazos de tomada. 
Nada mal para quem enfrenta tanta mentira e acreditação.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

JE SUIS CHARLIE

“A Humanidade não deu certo”.


Esta frase não é minha e nem foi criada num momento de revolta social.
Na verdade foi um desabafo em resposta a uma desilusão amorosa, mas uma resposta tão abrangente, tão contundente que se extrapolada para outras esferas do relacionamento interpessoal podemos dizer que se encaixa em uma gama infinita de situações.


A humanidade caminha sempre para frente. Teoricamente.
A cada dia somos surpreendidos por milhares de facilidades cibernéticas e avanços tecnológicos que abrem caminhos para uma acessibilidade evolutiva a  velocidades estonteantes. Inventamos coisas, às vezes com bons propósitos, outras inutilmente.
Podemos de modo grosseiro medir o avanço científico da humanidade ao tentar imaginar como viveríamos há apenas algumas décadas. Este pensamento aliás está esculpido no imaginário coletivo, com contos e prosas amplamente esgarçados à respeito. É tão comum quanto imaginar um homem da Idade Média teletransportado aos tempos atuais. É divertido por ser tão impactante.


Durante milhares de anos o Homem tenta evoluir cientificamente, socialmente, culturalmente, e durante todos estes anos a História mostrou que a humanidade é de natureza cruel. A crueldade está inserida, talvez geneticamente na raça humana. É provável que seja fruto do fato espetacular que faz com que o Homem pense. O diferencial é justamente este: o Homem pensa. O contra senso está no fato de a mesma inteligência que faz da crueldade uma característica intrínseca ser também a nossa única esperança de paz.


O Homem usa a crueldade tentando propósitos de convivência em bando, como observamos em outros animais: ser líder, ter comida, ter poder. A diferença é que os seres humanos usam a ganância como base de sustentabilidade de uma sociedade que sem pilares sólidos só tende a desmoronar. O poder vem naturalmente para aqueles que são respeitados, mas o Homem que é cruel consegue desenvolver todo um maquinário para chegar aos fins não importando os meios. Isto é bem conhecido.
O respeito então acontece, mas estabilizado de forma balouçante sobre bases pífias. Não se respeita este homem pelo que ele é como ser humano íntegro e pensante, mas sim pelo que ele capaz de fazer com quem não respeitá-lo. Sem bases fortes, uma brisa soprada de viés pode ser o fim de uma grande empreitada.
Grandes sociedades com valores trocados desapareceram sem deixar vestígios ao longo da História


Ocorre que abaixo das lutas pelo poder existe toda uma sociedade a qual não se pode generalizar. E esta sociedade crê…


E as crenças são muitas, seguindo a imensa diversidade cultural planetária. Sem a troca de idéias motivada pelas diferentes formas de pensamento, o colorido da vida nem existiria, seria um tédio sem fim. Então diferimos em tudo, mas principalmente no modo de crer, e ainda assim - olha que interessante - fazemos parte do mesmo bando. Vivemos em bandos extratificados e continuamos sendo da mesma espécie.


Apesar de todo o desenvolvimento e de todo o avanço que se ergue com a evolução das sociedades, os instintos primitivos permanecem. Assim, na eterna luta desenfreada pelo poder, a manipulação dos que crêem já é um fato amplamente conhecido se revisarmos a história da humanidade. O uso indevido de interpretações deturpadas de ensinamentos ancestrais é quase que uma fórmula certa, o “segredo” para encurtar o caminho entre tomar o poder manipular as massas.
Ao longo História, várias crenças foram extenuantemente doutrinadas, sendo seus escritos muito bem documentados com detalhes de cultos e tradições. Muitas religiões pregavam matanças de semelhantes ou de animais e vários rituais foram seguidos e respeitados por nossos ancestrais porque assim era o certo. As condenações à morte por crenças religiosas já foram parte integrante de nossa evolução. As leis eram escritas em livros religiosos e seguidas à risca por fiéis, matando ou mutilando inocentes. Verdadeiras barbaridades já foram cometidas em nome da fé, desde os tempos em que se conhece História.
Os romanos por exemplo matavam as crianças e martirizavam os que hoje são considerados santos. Os reis católicos da Espanha expulsaram milhares de judeus de seus territórios e usaram desculpas religiosas caprichosamente escritas em verdadeiros editais para massacrar de forma injusta e covarde milhares de pessoas. Os judeus usavam o sacrifício animal em tempos antigos como ritual religioso devidamente regrado por seus livros sagrados.
Aí, evoluímos… não todos nós, é claro.
Construímos pontes, fizemos estradas, melhoramos a saúde, criamos a tecnologia e… pensamos. A grande maioria aboliu de suas crenças a necessidade de atos bárbaros para a purificação do espírito. Atualizamos os livros sagrados. Ficamos mais humanos. Entendemos que o certo de uma época pode não caber nos tempos atuais, e aprendemos a resolver nossos problemas com um misto de passado e futuro. Não desprezamos as leis romanas, mas também não queimamos mais ninguém nas fogueiras, nem patrocinamos espetáculos em que homens são devorados por feras ou lutam entre si até a morte com requintes de crueldade e violência gratuita.


Temos o cinema para suprir estas cotas necessárias de violência da humanidade.
Não fazemos mas ainda nos divertimos com isso.


Ainda há a luta pelo poder. E não há nada melhor para o poder que a manipulação das massas. E para manipular as massas não há nada mais rápido e eficiente do que a finalidade religiosa.
Graças ao apelo religioso fanático e errôneo, conseguimos distinguir nos dias de hoje várias aberrações. Há os que insistem em viver como em séculos passados, sem respeitar  idéias pacíficas alheias; os que de forma pacífica ou não, pregam e arrebanham exércitos de seguidores; os que desligam as luzes nos fins de semana e fazem isso na casa de pessoas comuns, obrigando-as a seguir um ritual maluco;  os que saem do banheiro rezando porque o cocô saiu corretamente do orifício anal; os que usam os avanços tecnológicos durante a semana mas que em determinadas situações agem como animais perante a sociedade laica. Há milhares de exemlos: os que tem internet e Facebook, mas mandam suas mulheres cobrirem seus corpos dos pés à cabeça, mulheres estas que usam por baixo do pano roupas e sapatos de preços indescritíveis; os que em pequenos vilarejos dentro de cidades desenvolvidas ainda usam luz de velas e se locomovem em charretes; pessoas que pregam o não recebimento de sangue alheio mas que diante da morte fazem cair por terra as suas crenças e se agarram ao desenvolvimento da ciência...


Existe uma diferença muito grande em viver dentro de uma comunidade fechada que segue certas regras e viver tentando impor estas regras para o mundo que cerca aquela comunidade.
O fanatismo em qualquer esfera deve ser veementemente combatido. Desde a sua raiz pacífica até quando se transforma em guerra.
As pessoas são diferentes e esse é o grande sabor da convivência. É o que nos tira do tédio. E o respeito às diferenças é o que dá cor à convivência dentro de uma sociedade.


Considero que estas pessoas que vivem em retrocesso estão prestando um enorme deserviço à humanidade. A evolução está aí para ser saboreada e não para ser combatida. Temos leis para a convivência pacífica e que fazem na grande maioria das vezes prevalecer o bom senso. Em uma sociedade laica, ser fanático é um absurdo sem tamanho. É um desrespeito ao avanço sócio-cultural e tecnológico que tentamos por anos conquistar além de, é claro, ser uma tremenda hipocrisia pois os líderes destes movimentos estão completamente munidos de tecnologia e aplicando leis ancestrais com interpretações deturpadas para reger suas pobres e ignorantes comunidades.


Existem lugares fechados onde se pode seguir determinados padrões religiosos e viver de forma medieval. E isso vale para todos os tipos de religião. O mundo é um lugar tão democrático e evoluído que até faz com que nestes lugares os fanáticos tenham o seus lugares ao sol. Se alguém deseja ter sua vida regida por extremistas radicais, poderá viver feliz num lugar assim.
É a imposição de idéias para um todo global que deve ser repudiada. O Homem é livre para aderir ou deixar uma causa. É livre para se mudar e para decidir se quer ou não seguir rezando de determinada maneira estereotipada.


Os livros religiosos em sua maioria e durante a história da humanidade pregaram violência em suas diversas formas e graus. Só que as religiões se modernizaram e apesar de não conseguirmos mudar o que foi escrito há milhares de anos, conseguimos nos tempos atuais, interpretar de forma proativa os ensinamentos antigos. Da mesma forma que usamos ainda hoje princípios das leis romanas, não colocamos ninguém na jaula dos leões do Jardim Zoológico para ser devorado na frente do grande e respeitável público.


Portanto insisto. Numa sociedade laica, o combate ao fanatismo com suas pregações pragmáticas e tendenciosas, exercido por uma minoria ruim, é o ponto de partida para o respeito e a convivência pacífica. Fanáticos existem em todas os credos e interpretam da mesma forma idiota o que foi escrito há milhares de anos.
Generalizar uma determinada religião ou etnia só porque dela saem fanáticos violentos, é ser radical também. Temos fanáticos em todas as esferas do comprotamento religioso e que sáo igualmente pessoas ruins.
As interpretações devem ser trazidas à luz da evolução.
O fanatismo leva em conta apenas uma hipocrisia sem tamanho de não enxergar seletivamente que o mundo evoluiu. Seletivamente sim, porque os mandatários do poder se utilizam com frequência de toda a evolução científica e tecnológica disponível ao seu alcance. Tudo pelo poder.
E o poder não quer saber de religião. Quer saber de mandar. O mote religioso é só uma forma de controle rápido para mobilizar as massas.
E por mais que estejamos vendo isso, é difícil fazer com que todos enxerguem que esta violência toda não tem nenhum deus no meio… o que há é uma luta desenfreada por territórios, por poder e pelo prazer do uso da força como caminho mais curto, respaldado por religião - outro caminho encurtado.


Esta semana faz um mês de um dos atos mais bárbaros cometidos contra uma nação laica por extremistas radicais, fanáticos e “religiosos”.
Muito foi dito, pouco foi feito, e eu chego quase à conclusão de que é praticamente impossível deseducar uma população submetida ao fanatismo religioso, político ou qualquer que seja a sua fonte.
Os cortes na educação de um povo como vemos amplamente disseminados em nosso próprio país, são o ponto de partida para a manipulação das massas. Junte-se a isso a pregação religiosa tendenciosa e fanática e teremos então uma grande catástrofe social.
Não estou falando nenhuma novidade.
Só deixo aqui a minha indignação pelo rumo que a humanidade está tomando. Pelo choque de diferenças entre a evolução e o fanatismo arcaico usado de maneira tão vil, tão em ascenção ultimamente.


E a última pergunta: se Deus, nem Alah, nem nenhuma outra divindade estabeleceu regras a respeito do uso da internet, como saberemos que o Facebook não é pecado?
E se for?!